Adolescentes com uma alta taxa de obesidade Pesquisa feita nos Coelhos aponta que 36,4% dos adolescentes da comunidade estão acima do peso

Publicação: 18/10/2018 03:00

O excesso de peso na adolescência é um problema de saúde pública e a situação socioeconômica desfavorável vem sendo observada como um fator de importante contribuição para este fenômeno. A constatação, apontada na dissertação Prevalência e fatores associados ao excesso de peso em adolescentes de uma comunidade de baixa renda, defendida por Lizelda Maria de Araújo Barbosa, no programa de pós-graduação em Nutrição da UFPE, vem associada à análise de que as dificuldades de acesso à informação, geralmente enfrentadas pelas populações de baixa renda, podem repercutir negativamente no acesso a informações sobre alimentação saudável, tornando-as mais propensas ao desenvolvimento de distúrbios nutricionais.

Considerando que a adolescência em si é um período suscetível a mudanças comportamentais e na composição corporal, a pesquisadora aponta outros fatores de base socioeconômica que contribuem para o fenômeno do excesso de peso, entre eles a dificuldade ao acesso de alimentos saudáveis e a um bom serviço de saúde. Portanto, segundo a autora do estudo, quando se somam essas mudanças a uma condição financeira desfavorável há uma situação de risco para o desenvolvimento do quadro de excesso de peso na adolescência. A prospecção dos dados foi feita entre jovens da comunidade dos Coelhos, na região central do Recife.

De acordo com a pesquisa, o fato de dispor de internet residencial parece refletir uma melhor condição financeira, um maior acesso às oportunidades sociais e, sobretudo, um fator de proteção à ocorrência de excesso de peso entre os adolescentes avaliados. “Essas associações reafirmam a natureza multifatorial da obesidade e revelam para a sociedade o impacto que os fatores socioeconômicos podem exercer na determinação do excesso de peso em adolescentes que vivem em comunidades de baixa renda”, explicou.

A partir do levantamento, observou-se que 36,4% dos adolescentes da comunidade apresentaram peso acima do recomendável, sendo 20,4% na escala do sobrepeso e 16,0% com obesidade. Quando se avaliou por sexo, foi observada uma maior prevalência de excesso de peso entre as adolescentes do sexo feminino (42,5%), quando comparadas aos do sexo masculino (28,6%). “As comunidades semelhantes à que foi estudada geralmente abrigam famílias que vivem sob condições socioeconômicas e ambientais precárias e, consequentemente, esperava-se que elas apresentassem situações fundamentalmente desfavoráveis, incluindo especificamente a prevalência de agravos carenciais, como a desnutrição energético-proteica. Entretanto, a prevalência de desnutrição encontrada foi de 3,6%, enquanto a de excesso de peso na população total foi cerca de dez vezes maior”, destacou a pesquisadora.

Esses resultados foram obtidos mediante um estudo epidemiológico de corte transversal, caráter analítico e de base populacional denominado Saúde, nutrição e serviços assistenciais numa população favelada do Recife: um estudo baseline, que contou com a participação do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Departamento de Nutrição da UFPE e Secretaria de Saúde da cidade do Recife. O estudo foi realizado durante o período de março a setembro de 2014, a partir de inquérito domiciliar, com amostra probabilística representativa da população de adolescentes da comunidade dos Coelhos. Participaram do estudo 225 adolescentes com idade média de 14 anos, sendo 98 (43,6%) do sexo masculino e 127 (56,4%) do sexo feminino.