Olinda recebe nove mil educadores Congresso Nacional de Educação (Conedu), que começou ontem e vai até sábado, reúne professores e estudantes e tem como proposta a educação inclusiva

Publicação: 18/10/2018 03:00

Mais de nove mil professores e estudantes estarão reunidos até o próximo dia 20 no Centro de Convenções, em Olinda, para participar do 5º Congresso Nacional de Educação (Conedu). O evento reúne palestras, cursos, apresentações culturais, premiações e apresentação de trabalho científico. Apesar de a inclusão ser um dos temas contemplados, participantes com deficiência auditiva tiveram dificuldades em participar da programação por falta de intérprete de Libras, considerada primeira língua dos surdos, segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Os professores José Arantes, 36, e Antônio Cardoso, 50, prepararam trabalhos científicos sobre os marcos legais para formação de professores na perspectiva da educação de surdos, que serão apresentados hoje. No entanto, uma preocupação deles é a inclusão. Apesar de o tema ser voltado para pessoas com deficiência auditiva, em todo evento, só existem intérprete de Libras nos auditórios, onde acontecem as palestras e na secretaria, para informações gerais aos participantes.

Eles estavam inscritos no curso sobre maneiras de introduzir as tecnologias ao processo de ensino-aprendizagem de pessoas surdas, mas não puderam participar por falta de intérprete da Língua de Sinais. A dificuldade expõe a realidade de muitas escolas brasileiras e a dificuldade encontrada por alunos com algum tipo de deficiência ao ensino.

“Me sinto frustrado em não poder participar, apesar de ter inscrição prévia. É lamentável que um evento deste porte não tenha disponibilizado intérpretes nos cursos, sobretudo em um debate a respeito da inclusão. Existe a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência que deve ser seguida e respeitada, garantindo nossos direitos como cidadãos”, reclamou José Arantes.

De acordo com a assessoria de imprensa do Conedu, o intérprete da secretaria poderia auxiliar, quando solicitado. Segundo o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Manoel Alvez de Melo, que ministrou a oficina sobre a utilização do WhatsApp como ferramenta tecnológica que pode ser utilizada como instrumento de produção textual e interação para alunos surdos, não havia intérpretes disponíveis no momento e uma das participantes se disponibilizou a interpretar em Libras todo o curso.

“Como foi um tema voltado para os surdos, nós achamos que já iria ter um intérprete de libras no minicurso porque faz parte da proposta. Infelizmente não foi disponibilizado. Ficamos profundamente tristes por ser um evento em educação em que estamos trabalho inclusão, acessibilidade e dois alunos participantes foram embora quando poderiam enriquecer bastante o trabalho”, comentou Manoel.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que inclusive reconhece a necessidade de práticas pedagógicas inclusivas, foi um dos temas mais procurados entre aqueles que serão apresentados nos minicursos. Apesar de ter sido aprovada há quase um ano, a BNCC ainda não foi plenamente assimilada por profissionais da educação. Mestres em educação pela UFPE, Rosângela Dias e pela Universidade do Rosário, na Argentina, Ingrid Ferreira, levantaram o debate sobre as competências propostas pela BNCC e as dificuldades de implementações.

“Com a presença de pessoas de diversos estados, percebemos que existe uma dificuldade comum de entender a Base com suas nomenclaturas e se atualizar através da formação profissional mais antiga, com temas atuais. A formação inicial dos profissionais licenciados e pedagogos não está dando conta da demanda atual. As questões socioemocionais, dificuldades com o material pedagógico, que já está atualizado, mas que o professor ainda não domina, a falta de conhecimento das redes de ensino dos municípios e estados em relação à base”, revelou.

De acordo com a coordenadora do Congresso e professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Paula Castro, o evento que já passou por João Pessoa, na Paraíba, e Natal, no Rio Grande do Norte, reúne contribuições das diferentes realidades do sistema educacional do Brasil. “De fato nós vivemos em um cenário de desigualdade e exclusão no país, a gente não pode negar. Trazer o evento para o Nordeste e fazer com que as discussões aconteçam aqui é importante para lançar luz ao que fazemos. Não só como uma questão de valorizar aquilo que vem da região, mas mostrar que existe uma singularidade de saberes para melhoria da qualidade de discussões sobre educação”, afirmou.