E agora, aonde vão os ambulantes? Projeto da nova Conde da Vista prevê acomodação de 40 vendedores informais, cerca de 10% do contingente que trabalha na avenida atualmente

Tânia Passos
tania.passos@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 13/11/2018 09:00

A requalificação da Avenida Conde da Boa Vista, que terá a obra iniciada em março de 2019, tem pela frente o desafio de melhorar a circulação e o acesso dos usuários do transporte público, e oferecer mais opções de travessia segura para os pedestres. Mas há um ponto, que tudo indica, não será de fácil resolução: como abrigar os cerca de 400 ambulantes que trabalham atualmente ao longo da via, segundo dados da Associação do Comércio Informal do Recife.

De acordo com a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, o projeto limita em 40 o número de fiteiros que vão permanecer na via em estandes padronizados. Segundo o secretário da pasta, João Braga, os ambulantes que comercializam de alimentos a produtos eletrônicos serão transferidos para os centros de comércio informal, que serão entregues em 2019 nas ruas da Saudade e 7 de setembro.

O município trabalha com um cadastro feito em 2014 com um total de 94 vendedores. “A cada dia surgem mais ambulantes. O município precisa trabalhar com um planejamento e nossa prioridade são os cadastrados em 2014. Mas podem ser feitos ajustes de acordo com a necessidade e disponibilidade”, explicou João Braga.

O vendedor Rosoaldo da Silva, 49 anos, está há cinco anos na Conde da Boa Vista, mas disse que não foi incluído no cadastro. “Nunca fiz parte de nenhum cadastro. Eu sei que em 2015 havia uma lista aqui de 135 ambulantes e eu já não estava nessa lista. De lá para cá esse número triplicou devido ao desemprego”, revelou.

Sair da calçada de uma das mais importantes vias da cidade, por onde circulam cerca de 310 mil pessoas por dia, não está nos planos do ambulante Eduardo Rabelo, 23 anos, há três anos negociando na via com a venda de carregadores e capas para celular. “Eu acredito que eles vão organizar a gente aqui mesmo. Não tem como ir para outro lugar. É aqui que passa gente e de onde nós tiramos nosso sustento”, contou o vendedor, que à noite faz faculdade de administração.

A resolução do problema, segundo o presidente da Associação do Comércio Informal, Edvaldo Gomes, 47 anos, que comercializa no local desde 2002 e foi eleito para um mandato até 2020, passa pelo Plano Diretor do Recife, que está em processo de revisão. “Não basta tirar os ambulantes que estão aqui hoje e colocar em dois centros, que eles dizem que vão ficar prontos em 2019. É preciso discutir alternativas junto aos ambulantes. Uma das propostas é fechar a Rua 7 de Setembro para o comércio informal e oferecer outros locais viáveis, onde exista circulação de pessoas, ou quem sair da Conde da Boa Vista voltará cedo ou tarde”, revelou.

Obras paralisadas  
A maior concentração de ambulantes na avenida fica entre a Rua do Hospício, nas imediações do Shopping Boa Vista, nos dois sentidos da via, até as imediações do Atacadão dos Presentes. Os vendedores fazem um verdadeiro corredor só com produtos para celular. “O certo é que cada um usasse um espaço de um metro quadrado, mas tem gente que ocupa um espaço maior e acaba prejudicando quem mais precisa”, contou Rosoaldo.

Há dois anos, a Prefeitura do Recife já havia adquirido três terrenos para a construção dos shoppings populares, sendo um na esquina da Rua Riachuelo com a Rua da Saudade, que teve as obras paralisadas por falta de verbas. E outros dois terrenos conjugados entre as ruas 7 de Setembro e da Saudade. De acordo com o secretário João Braga, o terreno que fica entre as ruas Riachuelo e Saudade abrigará os ambulantes de frutas, que hoje comercializam nas imediações.

Já os outros dois terrenos irão ser destinados para os ambulantes que comercializam roupas e eletrônicos ou oferecem serviços diversos. “Essas construções serão feitas de acordo com os recursos. Se for preciso, a gente faz uma adequação provisória para receber os ambulantes com uma estrutura mínima para desocupar a Conde da Boa Vista”, explicou o secretário.