Testemunhas inertes do apocalipse Geossítio descoberto em Paulista tem fragmentos de meteoro e fósseis da época em que uma catástrofe global encerrou o reinado dos dinossauros

Publicação: 08/11/2018 09:00

Pernambuco abriga o primeiro geossítio aberto a visitas - por enquanto restritas a professores, pesquisadores e estudantes - da América Latina. No sítio  geológico situado perto da Praia de Maria Farinha, em Paulista, foram encontradas centenas de fósseis de animais que viviam na Terra há cerca de 66 milhões de anos, no fim do período Cretáceo, e fragmentos do meteoro que caiu na província de Yucatán, no México, dizimando mais de 60% das espécies, incluindo os dinossauros.

O perímetro de 65 mil m2 fica em uma área de mineração da Votorantim Cimentos. O espaço será conservado através de parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A região foi dividida em quatro exposições, com painéis explicativos que contam a importância dos achados. É possível encontrar nas rochas evidências da separação entre a Era Mesozoica, que tinha os dinossauros no topo da vida animal, e Cenozoica, marcada pela ascensão dos mamíferos.

Pelo acordo firmado com a UFPE, a região não poderá ser escavada pela empresa.

Pelo potencial de preservação e por sua relevância para o estudo geológico, o local já recebeu pesquisadores de várias partes do Brasil. Um deles foi o geólogo Gilberto Albertão, que estuda a região desde a década de 1990 e veio a Pernambuco pela primeira vez, naquela época, para realizar pesquisas de mestrado pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

“Essa mineração existe desde a década de 1940 e muitos trabalhos científicos já foram feitos. Esse é o único ponto do Brasil que apresenta a demarcação do limite entre o Cretáceo e o Paleógeno, provocado pela queda do meteoro no Golfo do México”, ressaltou. Milhares de fragmentos do meteoro foram encontrados na mina. Em 2008 também foram achados nas rochas da Unidade Poty um crânio completo, vértebras e mandíbula de um crocodilo marinho. Há dois anos, foram encontradas partes da carcaça da tartaruga marinha que ganhou o nome de Rainha do Mar de Pernambuco.

Outras espécies ainda podem ser descobertas. Por isso, o local ficará aberto aos pesquisadores e técnicos que desejem realizar estudos.

Maremoto
“O singular desse geossítio é que existe uma camada de sedimentos que um maremoto trouxe até o continente em uma tempestade que devastou tudo. Essa divisão no tempo é algo extraordinário”, afirmou o pesquisador da Ufop, Paulo Martins.

De acordo com o gerente de direito mineral da Votorantin, Rodrigo Sansonowsk, área de preservação é um exemplo de que a mineração pode contribuir com a preservação de achados geológicos. “O que antes iria virar minério para cimento hoje é material de preservação”, afirmou.

As visitas devem ser solicitadas através do e-mail geossítio.poty@vcimento.com. O geossítio está aberto a pesquisadores, mestrandos e doutorandos, já que, por enquanto, ainda é tratado exclusivamente como um conteúdo científico. Futuramente, pode haver exposição dos achados, de acordo com o projeto apresentado inicialmente pela UFPE. Mas aos sábados, quando não há operação da mina, a empresa irá receber a comunidade do programa De Portas Abertas, para apresentar tanto o geossítio, como outras atividades realizadas na unidade.
 
Pré-história

O mundo no período Cretáceo

  • 50% a mais de oxigênio na atmosfera do que hoje
  • 4 graus Celsius a mais do que a média atual de temperatura, atingindo picos, em algumas épocas, de até 17 graus mais quente do que hoje
  • 15 graus célsius mais quentes eram os mares, na média comparada com hoje
  • 145 milhões a 66 milhões de anos atrás foi a duração do período, que sucedeu o Jurássico e antecedeu o Paleógeno
Dinossauros célebres do período
Os carnívoros tiranossauro rex e velociraptor, e os herbívoros triceratops e argentinossauro (um dos maiores dinossauros já encontrados) são alguns dos mais importantes animais da época, assim como o voador pterossauro