Torreão, oásis urbano desconhecido Bairro fica em uma área privilegiada entre duas importantes avenidas de tráfego: Norte e Agamenon

Rosália Vasconcelos
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Publicação: 17/11/2018 09:00

Com apenas sete ruas e 16 hectares de área, o bairro do Torreão, na Zona Norte do Recife, ainda pode ser considerado uma espécie de oásis urbano. Diferentemente do verticalizado e movimentado bairro do Espinheiro, possui muitas casas, pequenos edifícios, ruas e calçadas largas e arborizadas, numa espécie de resistência quase impossível à expansão imobiliária que começa a chegar com força no bairro. Apesar de essencialmente residencial com clima de cidade de interior, o Torreão é pouco adensado. Muitos dos imóveis abrigam atividades comerciais, como escritórios, agências e clínicas de saúde, levando ao esvaziamento do bairro no período noturno. Suas características, contudo, permitem ao Torreão ser uma das áreas do Recife de maior potencial de transformação urbana sustentável.

“O Torreão, tal como os Aflitos, é um bairro muito pequeno, com apenas dez quadras e dentro de um padrão regular de urbanismo, ocupação típica do século 20. E tem muitos pontos a seu favor. Um deles é estar localizado entre dois grandes corredores metropolitanos, que são as avenidas Agamenon Magalhães e Norte. Também é um bairro repleto de amenidades urbanas, a exemplo da rua principal Othon Paraíso, que possui uma alameda central com árvores e bancos e é uma via muito agradável para caminhar a pé e andar de bicicleta”, enumera o arquiteto e urbanista, Geraldo Marinho.

À riqueza urbanística do bairro, somam-se duas praças. Uma fica às margens da Avenida Agamenon Magalhães e conta com uma pista para caminhada e uma Academia da Cidade. A Praça Augusto Rodrigues fica no centro do bairro, mas sem condições adequadas para uma efetiva utilização. Faltam bancos, gramas, brinquedos, há muito lixo e as árvores estão mal cuidadas. “O abandono dessa praça atrai vandalismo e serve de ponto de tráfico de drogas. Alguns moradores já viram pessoas armadas, inclusive. Aqui é um bairro residencial e esse lugar, se bem cuidado, pode receber uma pista curta para pequenas caminhadas, ter um parquinho, um projeto de arborização e uma estação do BikePE”, relata a aposentada Verônica Aragão, 52 anos.

Junto com outros moradores, Verônica criou o grupo de Whatsapp Alerta Torreão, para que as pessoas possam trocar informações sobre a segurança da área e atuar em frentes de mobilização para reivindicar soluções para alguns dos problemas do lugar. A ferramenta conta com a participação de policiais do 13º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelas rondas no bairro. O grupo também elaborou um documento, entregue à Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) solicitando melhorias para a Praça Augusto Rodrigues. O órgão informou que está elaborando um projeto de requalificação para o equipamento. “Após essa etapa, a Emlurb irá captar recursos para executar a obra de recuperação do espaço público, atendendo a demanda da população do bairro”, disse, em nota, a Emlurb.

Apesar dos problemas, para a doutora em urbanismo, Luciana Santiago, o Torreão ainda preserva uma regular infraestrutura urbana. “As calçadas estão em bom estado, resistem muitos quintais com suas áreas verdes e há uma proporção satisfatória entre o espaço público e a área construída. O morador ainda consegue ter uma qualidade de vida, vivenciando mais as ruas. Ele consegue caminhar e andar de bicicleta, por exemplo, com certa tranquilidade, se comparamos à situação de bairros vizinhos, como Graças e Espinheiro”, coloca Santiago.

A aposentada Maria Glauce Borges, 82 anos, disse que quando chegou no Torreão, há 43 anos, não havia prédios, apenas casas e que o bairro sempre foi a expressão da tranquilidade, “mesmo nos dias de hoje”. “Eu criei três filhos brincando aqui nessa praça (Augusto Rodrigues), que não era do jeito que está hoje (abandonada). O que mais gosto daqui é a calma, sem buzinaços e barulhos dos bairros mais agitados. A parte ruim é que nenhuma linha de ônibus entra no bairro. Quem precisa de transporte público tem que andar até a Avenida Norte ou Agamenon e, dependendo do horário, é muito mais perigoso. E faltam alguns serviços, como um café, uma padaria delicatessen, restaurante, lojas, até para melhorar o movimento de pessoas no bairro e entender as necessidades dos moradores do bairro, muitos aposentados”, defende Glauce.