AEROCLUBE » Uso de terreno para habitacionais não é consenso

Publicação: 13/11/2018 09:00

O antigo terreno do Aeroclube de Pernambuco, localizado no bairro do Pina, na Zona Sul da cidade, dará lugar a 600 unidades habitacionais do programa federal Minha Casa, Minha Vida. A Autarquia de Urbanização do Recife (URB) emitiu uma chamada pública para a contratação da empresa de engenharia que ficará responsável pela construção. O novo uso, no entanto, não é consenso, já que outros projetos sugerem que a área de 21 hectares se torne um parque ou ainda ganhe uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para atender o entorno.

Desde 2013, quando o terreno passou a ser da Prefeitura do Recife e o Aeroclube foi transferido para Paulista por causa da construção da Via Mangue, a disputa pelo terreno localizado no Parque dos Manguezais se tornou pauta de três audiências públicas. A vereadora do Recife, Ana Lúcia (PRB), argumenta que havia um plano de requalificação que incluía a instalação de equipamentos públicos. Após a publicação da portaria para a construção dos habitacionais, ela reuniu líderes comunitários do Pina e entregou um relatório ao Ministério Público  de Pernambuco para que a construção se torne moradia popular.

“A princípio, essas 600 moradias não irão contemplar mais de mil famílias que vivem em palafitas. A nossa luta junto às lideranças comunitárias é que naquela área sejam construídos habitacionais populares. O Minha Casa, Minha Vida não atende às famílias ribeirinhas que não têm condições de custear a mensalidade do apartamento, água e energia elétrica.”

A proposta dela é que o Conjunto Habitacional Encanta Moça seja construído no modelo faixa 1 do programa de habitação popular. As unidades contam com subsídio de 90% do valor por parte do governo federal e atendem a famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil. O projeto prevê a construção de um edifício em uma área de mais de 15 mil metros quadrados, e outras 300 unidades serão erguidas em um terreno de 17 mil metros quadrados.

A disputa pelo entorno da Bacia do Pina, que tem o terceiro metro quadrado mais caro da Região Metropolitana do Recife, está sendo estudada pela prefeitura, dada a importância econômica e ambiental da área. A Secretaria Municipal de Infraestrutura informou, através de nota, que defende o uso diversificado e está levando em consideração as demandas da sociedade, a sustentabilidade e a prestação de serviço para a população.

“Estamos ouvindo cada segmento. A população tem reivindicado construção de creche, parque, posto de saúde. Então estamos estudando a melhor alternativa que se viabilize financeiramente”, explicou o diretor-executivo de engenharia da Secretaria de Infraestrutura do Recife, Teógenes Leitão.

Para o vereador Wanderson Florêncio (PSC), essa é a última oportunidade que a Zona Sul tem de ganhar uma área verde planejada. Ele considera que o Parque Dona Lindu tem o uso direcionado para eventos, e há necessidade de criar uma área de convivência. “Nós iniciamos essa luta há pouco mais de um ano. Era um projeto que estava parado e se tornou uma pauta da sociedade. Nós defendemos que seja construído uma área verde nos moldes do Parque da Jaqueira. Uma possibilidade é criar um memorial que conte a história do Aeroclube, por exemplo. Outra possibilidade é uma ocupação mista com trabalho paisagístico abrindo um grande cinturão verde atendendo o conceito de cidade ocupada”, sugeriu.

Morando há mais de 20 anos no Pina, o vigia Severino Azevedo dos Santos, 45 anos, defende que o espaço seja para uso da população. “Uma das promessas de campanha do Prefeito Geraldo Julio era construir moradia popular para atender às famílias ribeirinhas. Esse terreno tem espaço suficiente para servir a todos. Pode ser construída, inclusive, uma UPA, já que a mais próxima fica no bairro da Imbiribeira, a 10 quilômetros de distância”, reclama.

Enquanto as propostas não saem do papel, os moradores seguem aguardando o novo destino do local que atualmente está tomado pelo mato. A falta de uso e a pouca iluminação aumentam a sensação de insegurança. “Antes eu morava em frente a um dos locais mais importantes da cidade. Sempre tinha movimento, eventos, e agora é ponto para usuário de drogas e prostituição. Em cinco anos, só vi abandono, mesmo em uma área tão reconhecida”, comenta a dona de casa Jacilene Marques, 53.