Como salvar o Recife de um desastre? Especialistas discutem soluções para minimizar as consequências das mudanças globais do clima na cidade, que é a 16ª mais vulnerável do mundo

Publicação: 11/12/2018 09:00

O Recife é a 16ª cidade do mundo mais vulnerável aos efeitos das mudanças do clima. O futuro projetado para o município, em função do aquecimento global e do aumento do nível dos oceanos, é de alerta. Até 2100, de acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), estima-se que a capital pernambucana possa ter cerca de 34 quilômetros quadrados do território passíveis de sofrer inundações.

Como se adequar e construir um ambiente resiliente diante desse cenário ameaçador é uma das perguntas que serão respondidas pelo Plano de Adequação aos Efeitos Climáticos da cidade, documento que será concluído até agosto do próximo ano.

Uma proposta apresentada ontem na 15ª reunião do Comitê de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (Comclima), o plano de adequação irá trazer um índice de vulnerabilidade, isto é, apontar onde o Recife corre maior risco e quais as situações que favorecem essa situação, para traçar um plano de ação com diretrizes para reduzir os riscos diante das mudanças climáticas.

“As nossas características geográficas levam ao alto índice de vulnerabilidade e, para isso, temos que nos preparar. A cidade tem um adensamento grande em uma área territorial pequena, com bacias de três rios e uma ocupação desordenada. Há uma tendência de que o avanço do nível do mar comprometa as bacias e que tenhamos chuvas mais intensas, que podem trazer riscos maiores”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Bruno Schwambach.

A criação do plano levará em consideração quatro pontos: questões de saúde e disseminação de vetores, deslizamentos, inundações e temperatura. O trabalho será realizado com apoio da consultoria WayCarbon e será executado por meio de financiamento do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Para isso, serão consultados documentos e planos já existentes na cidade, que possam oferecer dados de entrada – informações como temperatura da superfície da cidade, onde há mais e menos moradias, pontos de desastres mapeados, áreas de inundação frequentes, gargalos de infraestrutura e pluviometria.

Esses dados serão cruzados com informes globais de predição dos impactos e das mudanças climáticas em curso. Ao longo dos próximos meses, serão realizados workshops com a população para elaboração e apresentação do material. “A partir daí, vamos saber quais os eventos imaginados para a região, o que será um instrumento essencial para o planejamento urbano, para nortear as ações públicas em função desse futuro que é cada vez mais agora”, explicou o secretário-executivo de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife, Maurício Guerra.

O horizonte planejado para o Plano é 2037, quando a capital completará 500 anos. Porém, Maurício lembra que os impactos das mudanças no clima já estão acontecendo. “Ninguém imaginava, tempos atrás, vórtices ciclônicos na cidade. Mas aconteceu e derrubou 300 árvores, e deixou pessoas sem luz em casa por sete dias. Em situações extremas, o plano possibilitará minimizar os efeitos, dará capacidade de resistir a essas situações”, lembrou. Entre as ações já identificadas como necessárias está aumentar e qualificar     a cobertura verde, embutir o sistema de fiação elétrica, aumentar a permeabilidade do território, ampliar a mobilidade ativa e melhorar a qualidade do ar.

O plano de adaptação está sendo pensado para caminhar ao lado das ações de sustentabilidade previstas no Plano Diretor, que prevê a criação da Zona de Desenvolvimento Urbano Sustentável. “Reduzimos os índices construtivos dessa zona de três para dois. Outro ponto é o incentivo à construção sustentável, no qual aqueles que optarem pela certificação – que inclui redução de emissão de carbono, de consumo de energia, de água e aumento de área verde – terão um aumento de 10% sobre a área privativa não computável. Ou seja, ganharão 10% de bônus de área construída”, detalhou Guerra.
 
Números
  • 2 a 4 grau célsius é o provável aumento global da temperatura até 2040
  • 50 cm e 1,2 metro será a provável faixa de elevação global do mar em 2100, na comparação com 1992
  • 148 milhões de pessoas devem ser afetadas por esse fenômeno até 2070
  • 52 nações localizadas em pequenas ilhas podem ser varridas do mapa
  • 7 graus acima da média geral do Recife já podem ser verificados em ilhas de calor da cidade, como grandes vias urbanas
FONTE: Artigo Consequências da elevação do nível do mar no século XXI, de Luiz Marques, para o Jornal da Unicamp, e Instituto da Cidade do Recife Engenheiro Pelópidas da Silveira

4 consequências das mudanças

  1. Disseminação de vetores de doenças
  2. Deslizamentos de encostas
  3. Inundações nas cidades
  4. Aumento da temperatura
4 desafios para o Recife
  1. Aumentar as áreas verdes
  2. Embutir o sistema de fiação elétrica
  3. Ampliar a mobilidade de bicicleta e a pé
  4. Melhorar a qualidade do ar
FONTE: 15ª Comclima