Ilusão de lucro atraiu casal a golpe Empresária conta como ela e seu marido perderam R$ 70 mil após entregar o dinheiro a investidor suspeito de enganar dezenas de pessoas

Publicação: 19/02/2019 03:00

“Víamos que as pessoas não estavam perdendo dinheiro, mas ganhando.” Foi diante do aparente sucesso dos investidores que entregavam seus recursos para o consultor recifense Thiago Gouveia de Vasconcelos, 22, administrar, que a empresária Núbia (nome fictício), 34, e seu marido entregaram R$ 70 mil, de uma só vez, ao suspeito de estelionato contra o qual já há mais de 50 denúncias formalizadas.  

O caso, que veio à tona na semana passada, ganha proporções maiores a cada dia e envolve cifras robustas – um outro investidor, que contou seu drama num áudio que circula na web, teria perdido R$ 4,5 milhões. Entre as vítimas também está um grupo de 12 médicos.  O suposto golpe é investigado pela Delegacia de Repressão ao Estelionato, que começou a tomar depoimentos.

Núbia conta que ela e seu esposo entregaram o dinheiro a Thiago em setembro de 2018. A ideia era lucrar 10% em cima do valor investido. O casal conhecia o consultor por meio de familiares e amigos que, segundo ela, acompanhavam as operações de Thiago há mais de um ano e, até então, não haviam encontrado problemas.

Segundo Núbia, sempre que o casal solicitava parte do dinheiro, a quantia era repassada em, no máximo, cinco dias. Em dezembro de 2018, as dificuldades começaram. Depois de voltar de uma viagem internacional, o rapaz demorou cerca de 10 dias para realizar o depósito e passou a não enviar as planilhas semanalmente, como fazia antes.

Em janeiro ele viajou de novo e, desta vez, demorou 15 dias para retornar os contatos, de acordo com a empresária. Na semana anterior ao estouro do escândalo, passou a não responder mais. “Até a terça-feira da semana passada, pensávamos que ele poderia ter perdido algum dinheiro e estava tentando recuperar, pois ainda respondeu algumas mensagens. Na quarta sumiu de vez. O celular ficou desligado. Às vezes não atendia, mas ainda visualizava as mensagens”, explica.

Ela conta que, embora faça parte dos grupos de WhatsApp de pessoas supostamente lesadas, parou de ver as mensagens. “Estavam surgindo histórias desencontradas. Quero deixar claro que não investi com um desconhecido. Sabíamos que ele era estudante de economia, que já investia, e bem, há algum tempo. Não foi alguém que surgiu do nada. Este era o trabalho dele. Por isso, a confiança”, conclui.

O advogado de Thiago, Carlos Sá, esteve ontem na clínica onde o rapaz está internado se tratando de depressão. Segundo ele, o empresário reage bem ao tratamento e se encontra em processo de  redução dos medicamentos, mas não deverá ter alta nesta semana. “Falei com ele por cinco minutos, por recomendação médica, e só consegui me apresentar como advogado.”

O defensor também está em contato com a família do jovem. “Eles estão em uma situação difícil e não veem a hora de Thiago ficar bem para falar o que está acontecendo. Até agora, são tudo conjecturas.”

Artigo 171


Segundo o delegado Paulo Furtado, professor especialista em direito penal, caso seja comprovado o crime de estelionato (artigo 171), o que acontece quando alguém obtém indevida vantagem em prejuízo de uma ou mais vítimas, a pena varia de acordo com uma série de fatores. Não seria, a priori, um crime cibernético, mas um crime comum cometido por meio de internet. A pena é de um a cinco anos de reclusão.

“É preciso analisar se o suposto estelionatário utilizou de ardil (fraude moral, enganação) ou artifício (fraude material como falsificação de contrato, página de internet falso, etc). Caso o crime tenha sido praticado contra várias pessoas, são somados os crimes. Se houve a chamada continuidade delitiva, a pessoa pode responder por um único crime com aumento da pena em até três vezes”, afirma.