Medo e incerteza em São Lourenço Morando em construções próximas de adutora, famílias terão que sair por risco de inundação e explosões, mas cobram orientação e apoio do poder público

Publicação: 19/03/2019 09:00

O aposentado José Maciel, 76, trabalhou por mais de 20 anos para conseguir construir a casa onde mora, na Rua das Papoulas, no bairro de Penedo, São Lourenço da Mata. Aos poucos, foi transformando a estrutura de taipa em paredes, piso e teto de alvenaria. Há 25 anos vive no mesmo local. Ao redor da casa, os descendentes foram construindo suas moradias. Hoje, são seis filhos e 20 netos residindo no terreno localizado a poucos metros do duto de Tapacurá.

Como José, moradores das duas ruas situadas na faixa de domínio da adutora foram orientados pela Prefeitura de São Lourenço da Mata a deixar os imóveis, por risco de vazamento, inundação e até mesmo explosões. Ouvidos pelo Diario, eles disseram ontem desconhecer a recomendação e cobraram uma reunião com a gestão municipal, a Compesa e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

“Construímos não só uma casa, mas uma história aqui. São centenas de famílias que não foram comunicadas oficialmente sobre a questão. Precisamos que os órgãos nos procurem e nos orientem”, solicitou José.

A dona de casa Albenice Oliveira, 57, também cobra a presença do poder público na rua. Cadeirante, ela teme precisar sair da casa onde mora de aluguel há sete anos às pressas. “Não tenho como correr em uma situação de emergência. Ficamos sabendo dessa orientação de desocupação pelas redes sociais. Não é assim que funciona. Os órgãos precisam conversar pessoalmente com os moradores. A gente pode sair, mas precisamos entender o contexto e saber das garantias”, afirmou.

Na manhã de ontem, os moradores se reuniram com representantes da organização não-governamental Juventude Criativa, de São Lourenço da Mata. O diretor de relações institucionais da ONG, Anderson Coutinho, disse que encaminhou ofícios ao MPPE, à Compesa e à Prefeitura de São Lourenço da Mata para agendar uma reunião com a participação das famílias.

“Colocamos a nossa sede à disposição para os encontros. Vamos disponibilizar 100 cadeiras e telão. Os moradores precisam ser tratados com respeito e um assunto como esse não se resolve pelo WhatsApp, mas olhando no olho. O risco existe, e os moradores sabem, mas precisam saber também quais sãos as salvaguardas do município e do estado. Queremos fazer essa pactuação com intermediação do Ministério Público”, pontuou.

IMPACTO
Igrejas, pontos comerciais e casas estão no trecho em questão. O Hospital Municipal Petronila Campos também fica na área. No entanto, de acordo com o procurador-geral da Prefeitura de São Lourenço, Nicolas Coelho, a unidade de saúde não será afetada pela desocupação. “A adutora passa muito abaixo da estrutura, não sendo necessária a desativação do hospital. A parte mais próxima fica no estacionamento, mas, a princípio, o hospital continuará funcionando normalmente”, afirmou.