Apaixonado pelo mar e pelas armas Lembrado como um homem empreendedor e destemido, empresário morto durante assalto em Aldeia gostava de navegar e colecionava armamento em casa

Publicação: 24/04/2019 03:00

Mário Cavalcanti Gouveia Júnior, 79, morto durante o assalto ao Parque Aquático Águas Finas, em Aldeia, era um homem apaixonado pelas águas. Pescador e mergulhador, passava boa parte de seu tempo no Iate Clube do Recife, onde mantinha a embarcação Regina, batizada com o nome da segunda esposa. Segundo seu primo e amigo, Ricardo Heráclio, 54, até o paladar deixava claro seu fascínio pelo mar. “Toda semana eu almoçava com ele no Iate. Mário adorava uma receita que ele mesmo inventou, a cioba frita com molho de alcaparras”, contou o administrador de empresas.

Alegre, empreendedor, brincalhão, amigo, bom pai, filho e marido. Um homem que gostava das coisas boas da vida e que também era destemido. Assim Mário é lembrado por amigos e familiares que compareceram ao velório do empresário ontem, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, onde Mário foi sepultado às 17h, em cerimônia que não pôde ser acompanhada pela imprensa a pedido da família.

Formado em administração de empresas e pai de um casal de filhos, Mário era considerado uma pessoa de iniciativa. Charles Calixto, 46, gerente financeiro do Iate Clube, afirma que o empresário assumiu um papel de destaque na instituição. “Ele contribuiu muito para o local ser o que é hoje. Era uma pessoa que sempre lutou pelo bem-estar dos ambientes dos quais fazia parte”, afirmou emocionado.

Segundo o advogado João Bosco de Albuquerque, amigo de Mário, o empresário era filho único de um engenheiro que criou o Clube das Águas Finas. “Embora tenha vivido toda a juventude como um bom playboy, nunca deixou de se preocupar com o futuro. Tanto que acabou aumentando os negócios do pai, trabalhando com muita galhardia, honra e dignidade. Abarcou a herança empreendedora do seu pai, um homem de visão que investiu no parque aquático em uma época em que não se pensava nisso, em meados da década de 1960”, relata.

João destaca ainda o quanto Mário adorava uma boa música e se preocupava com a preservação da natureza da região onde morava e trabalhava. “Ele tinha amor por aquela localidade e sempre foi uma questão de ordem para ele pensar mais no coletivo do que no individual. Um grande cidadão de valores morais”, concluiu.

Coleção
Mário também era um aficionado por armas. O Exército Brasileiro informou que o empresário era autorizado para colecionar armamento, mas ainda está fazendo um levantamento sobre a quantidade e os tipos de artigos bélicos que ele possuía. Segundo a corporação, um colecionador não pode ter fuzis automáticos ou semiautomáticos, por exemplo, nem portar suas armas.

Por outro lado, mesmo quem não é colecionador teve a possibilidade do posse de armas facilitada pelo decreto número 9.685, assinado em 15 de janeiro deste ano pelo presidente Jair Bolsonaro. A norma diz que qualquer brasileiro maior de 25 anos e sem antecedentes criminais pode ter até quatro armas em casa. Antes, o cidadão precisava apresentar seus motivos à Polícia Federal e cabia à instituição julgar se havia necessidade da posse.

Muitos brasileiros, no entanto, ainda têm dúvidas sobre a diferença entre posse e porte. “Quando se tem a posse, a arma só pode ficar em casa ou no estabelecimento comercial. Já o porte permite que a arma possa ser levada para qualquer lugar, seja na cidade, dentro do estado ou fora dele, a depender das limitações estabelecidas no ato do requerimento da Polícia Federal”, explicou o assessor de comunicação da PF em Pernambuco, Giovani Santoro.

Para liberar a posse, é realizado um teste de tiro que comprove capacidade de manuseio da arma, além de teste psicológico, certidões negativas da Justiça e certidão explicando a necessidade da arma. “O porte é expedido, excepcionalmente, quando o requerente demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física”, ressaltou Santoro.