ACERTO DE CONTAS » Em defesa das mulheres na TI

por Pierre Lucena
pierre.lucena@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 25/05/2019 03:00

Não precisamos de pesquisa para perceber a enorme disparidade quantitativa entre homens e mulheres na área de tecnologia da informação. Basta entrar em qualquer empresa com razoável quantidade de trabalhadores para perceber que este tem sido um ambiente majoritariamente masculino.

Este problema (sim, precisa ser tratado como um problema a ser resolvido) não é uma característica brasileira, muito menos pernambucana. Este é um fenômeno estudado mundialmente, aparentemente com pouco resultado prático do ponto de vista de reversão.

Quando verificamos os motivos para isto ocorrer, percebemos que a origem (mas não é o único fator) está na escolha do vestibular por parte dos estudantes do ensino médio. Pelas informações que obtive em relação ao Sisu (Sistema de Seleção Unificada), dos cursos das federais em Pernambuco, o que observamos é uma enorme disparidade de gênero na escolha de tecnologia como opção. No curso de engenharia da computação, apenas 21% eram meninas, em Ciência da Computação e Sistemas de Informação o quadro era ainda pior: apenas 15% e 12% eram meninas.

Como podemos ver, esta diferença já começa no ensino médio, quando por alguma razão as meninas não escolhem cursar a área de tecnologia. Mas os mais velhos sabem que nem sempre foi assim. As primeiras turmas de informática na Universidade Federal de Pernambuco (e em outras universidades era semelhante) eram majoritariamente femininas. Por alguma razão substituíram suas escolhas e optaram por outras áreas.

A Michael Page fez uma pesquisa extensa sobre o tema e os resultados não são animadores: ambiente hostil para as mulheres, diferenças salariais inaceitáveis e evasão acentuada já na universidade.

Daí a pergunta: o que fazer para reverter este quadro inaceitável? Ou ainda: o que o Porto Digital vem fazendo (ou ainda vai fazer) para reverter esta tendência?

Atualmente estamos executando um projeto chamado M.I.N.As (Mulheres em Inovação, Negócios e Artes) com o objetivo de reduzir esta disparidade através de ações de mobilização, fortalecendo a participação feminina no ambiente do Porto Digital. O programa é liderado por Marcela Valença e Natália Lacerda e vem organizando um grande número de ações mobilizadoras e de acolhimento às mulheres que podem mudar este ambiente no longo prazo.

A verdade é que não há solução fácil quando apenas 15% de meninas entram nas universidades. Este projeto, que foi impulsionado por uma emenda parlamentar da então deputada Luciana Santos (que foi essencial para o projeto), dividiu-se em três importantes eixos: atuação junto às meninas estudantes, atuação junto às mulheres profissionais e também incentivo ao empreendedorismo feminino.

E neste caso não tem jeito: será preciso um conjunto de ações afirmativas para que isso aconteça. Nossa ideia consiste em formar turmas e programas específicos para as mulheres e isso precisa ser entendido não apenas (mas também) como uma forma de redução da diferença de gêneros no ambiente da TI, mas como uma maneira de melhorar a produtividade do nosso ecossistema, já que a diversidade é fundamental para um ambiente criativo e inovador. Não se faz inovação quando todos pensam de forma igual.

Outra ação extremamente relevante está no apoio às mães que voltam da licença maternidade. Estamos fazendo uma creche na Rua da Moeda, em parceria com a Prefeitura e o Governo do Estado, em um prédio que está sendo restaurado e que atenderá este público. Sabemos que a licença maternidade é muito curta no Brasil e acreditamos que este apoio é fundamental.

Algo bem animador, e isso pode ser verificado no Porto Digital, é que as mulheres, apesar de serem minoria na área de tecnologia, desenvolvem com muita eficiência suas carreiras. Apenas como exemplo, duas de nossas principais empresas possuem mulheres em cargos de comando, como a Accenture, onde a principal head é uma mulher, e também no C.E.S.A.R., com várias mulheres em cargos relevantes. E temos também várias startups promissoras e interessantes lideradas por mulheres, como as empresas “Mete a Colher”, “Eu Escrevo” e “SET Projetos e Construção Virtual”, apenas para ficar nestas três.

Isso tudo nos mostra um caminho fundamental: para dobrarmos o tamanho do Porto Digital em número de pessoas será fundamental implementar um conjunto de ações para a inclusão das mulheres em nosso ambiente. A participação feminina está sendo encarada como uma grande oportunidade que não deixaremos passar.

Sabemos que isso só virá com uma ampla participação do ecossistema, mas há por parte de todas as organizações/entidades (NGPD, Softex, Assespro, SeproPE e Manguez.al) enorme boa vontade para reverter este quadro. Há uma grande sensibilidade para o tema, que está sendo tratado de forma séria por todas as empresas do Porto Digital.

Isso será revertido e a hora é agora.