Aplicativo para denunciar o assédio Criado por pernambucanos, para dar voz às usuárias do transporte público, app já funciona em Fortaleza e poderá ser usado no Grande Recife

Publicação: 22/08/2019 03:00

Brasília – O “botão virtual” Nina, desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Recife, ficou em segundo lugar no 1º Desafio Coletivo de Inovação em Mobilidade Urbana. A entrega do prêmio, com seis finalistas, foi feita ontem pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em Brasília (DF). A ferramenta permite que vítimas ou testemunhas de assédio em ônibus façam denúncias. O registro aciona as câmeras dos coletivos, e as imagens são encaminhadas à Polícia Civil para facilitar a identificação do agressor.

Apesar de ter sido criado e ter sede no Recife, o projeto não foi implantado na capital pernambucana. Atualmente, funciona apenas na cidade de Fortaleza (CE). Uma proposta para o uso da ferramenta no transporte público da Região Metropolitana do Recife está sendo analisada pela Secretaria Estadual da Mulher. “A cada quatro segundos, um caso de assédio acontece no transporte público, e as mulheres são 65% entre os passageiros. A insegurança amplia a evasão e pode ser combatida pelas empresas operadoras”, afirmou a fundadora da tecnologia e estudante da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Simony Moura, 27 anos.

Filha de uma ex-cobradora da antiga linha Alto da Bondade, Simony transformou um problema relatado pela mãe em solução que pode ser adotada em todo o país. A partir da plataforma, o poder público pode identificar o número de casos e mapear as linhas e regiões onde o problema tem maior incidência. Em Fortaleza, num período de quatro meses, 930 denúncias foram registradas. “O canal de denúncia fica integrado ao aplicativo já usado na cidade (Meu Ônibus Fortaleza, no caso da capital cearense) e registra ocorrências nos ônibus em pontos de parada e terminais”, explicou Simony.

Dos casos registrados em Fortaleza, 56% ocorreram dentro dos coletivos; 26% em paradas e 16% em um terminal de ônibus. As notificações foram feitas por mulheres vítimas de assédio (54%) e por pessoas que presenciaram a agressão (52%). Um total de 77 casos (apenas 8% do total registrado na plataforma) tornou-se ocorrência policial. “Como filha de cobradora de ônibus, ser premiada diante de uma plateia de empresários do ramo é uma vitória enorme. Queremos expandir para outras cidades, especialmente para o Recife, onde estamos sediados”, ressaltou Simony. Além dela, outros cinco pernambucanos trabalham na plataforma.

O primeiro lugar da competição foi para a solução OnBoard Mobility, de São Paulo (SP). A plataforma usa o sistema Android e cria uma carteira virtual – chamada Bilhete Digital – que digitaliza o cartão de transporte, permitindo o embarque através de QRCode. O objetivo da tecnologia é permitir um planejamento mais assertivo sobre linhas e tarifas. Fornece ainda informações a partir da integração do transporte público com bicicletas, patinetes, táxis e aplicativos de corrida.

“Também temos o objetivo de devolver o protagonismo da mobilidade urbana ao transporte coletivo. Acreditamos que é possível fazer isso por meio da tecnologia. É uma solução que digitaliza o cartão de transporte e passa a fazer com que todo o relacionamento, que hoje é físico, seja digital e melhore a percepção que o passageiro tem sobre o sistema que ele utiliza”, esclareceu Luiz Renato de Matos, um dos criadores da plataforma.

A repórter viajou a convite da NTU