QUESTãO PALESTINA » Após ameaças, UPE cancela palestra de ativista judeu

Publicação: 22/08/2019 03:00

A Universidade de Pernambuco cancelou palestra que ocorreria ontem sobre o processo de paz entre palestinos e israelenses sob alegação de ter recebido ameaças de grupo pró-árabes. O palestrante seria o cientista político André Lasjt, ex-soldado das Forças de Defesa de Israel e diretor-executivo da ONG sionista StandWithUs.

“Tive de cancelar o evento por motivo de segurança. Desde às 8h a Associação Pró-Palestina e Muçulmana de Recife (nem sabia que isso existia) me telefonou de forma dura e grosseira, ameaçando a mim, ao palestrante e a universidade”, escreveu Karl Schuster, servidor da universidade e moderador do debate.

Ele enviou a mensagem a um grupo de professores da UPE. A reportagem tentou falar com Schuster, sem sucesso. Aqui começa uma guerra de versões. A palestra de Lasjt havia sido criticada por uma entidade de apoio aos palestinos no Recife, a Aliança Palestina - Pernambuco.

Em postagem na terça-feira na sua página no Facebook, o grupo havia criticado o que considerava falta de isonomia da universidade em convocar um debate sobre o tema sem trazer também um representante ligado aos palestinos. Também na rede social, Lasjt retrucou no mesmo dia com vídeo no qual acusava a Aliança de boicotá-lo e convidava seus membros ao debate.

“De acordo com eles, sou radical ou extremista. Nunca defendi crime contra quem quer que seja. Se quiserem participar do diálogo, debater comigo, espero vocês lá”, afirmou. Em nenhum momento o nome da Associação Pró-Palestina e Muçulmana de Recife surgiu, talvez porque não exista.

“Conhecemos vários grupos, nunca ouvimos falar desse. Não queremos boicotar a palestra, ao contrário, queremos participar”, afirma Pedro Valença, membro da Aliança. Ao longo da terça, houve trocas de acusações nos comentários ao vídeo de Lasjt, que ontem postou um informe lamentando o cancelamento e acusando a Aliança.

“Não temos nada a ver com essa justificativa para cancelar o evento”, diz Valença, que é administrador de empresas na capital pernambucana. Em 2016, a Aliança realizou um simpósio em conjunto com o Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco sobre direitos humanos na Palestina, ao qual participou um professor de origem judaica como contraponto à majoritária presença de ativistas pró-palestinos.

Valença acusa a UPE de abrigar um evento custeado pelo “poder financeiro do movimento sionista”. Lasjt, neto de um sobrevivente do Holocausto, afirma ter feito mais de 500 palestras pelo Brasil com apoio de sua ONG. Ele se diz um sionista, ou seja, defende o estabelecimento de um Estado judeu nas terras da Palestina, tal e qual ocorreu em 1948, após os horrores do nazismo na Europa.

Por ter servido no Exército israelense, suas posturas costumam ser alvo de protestos. Há um ano, ele teve uma palestra na Universidade Federal do Amazonas interrompida por um grupo de ativistas que o chamaram de genocida. “Infelizmente, não é a primeira vez que palestras minhas são canceladas ‘por motivos de força maior’, que hoje faço questão de denunciar”, escreveu nesta quarta. (Folhapress)