SAÚDE » Mãe autorizada a plantar maconha

Publicação: 23/01/2020 03:00

Mais uma mãe pernambucana conseguiu, na Justiça, o direito de plantar maconha em casa para produzir remédio para um filho. Com apoio da Defensoria Pública da União (DPU), a dona de casa Elaine Cristina Silva, 37, foi a segunda pessoa a receber a autorização no estado, através de uma liminar na Justiça Federal. Desde o fim de 2019, a DPU já ajuizou três pedidos de habeas corpus preventivo e analisa outros sete, de mães em busca de usar os componentes da maconha para tratar dores, convulsões e outros problemas de seus filhos.

“Eu pulei, saltitei, comemorei muito. Foi um verdadeiro presente, porque são anos de luta”, celebra Elaine. Ela é mãe de João Pedro, 9 anos, que tem hemimegalencefalia. “Quando ele nasceu, só se sabia que ele tinha uma má formação congênita, que causa atraso no desenvolvimento psicomotor. E nenhum diagnóstico dizia o que ele tinha de fato. Só fui descobrir a hemimegalencefalia depois de uma consulta no Rio de Janeiro”, relata.

Aos dez meses de vida, João Pedro passou a ter crises convulsivas sucessivamente - até 25 em um mesmo dia. Ela recorreu a todo tipo de medicação para o filho, sem sucesso. “Ele tomou mais de dez tipos de anticonvulsivantes, cheios de efeitos colaterais, que só o deixavam dopado.  Chegou um momento em que ele só regredia, perdeu movimentos, parou de engolir comida. E o óleo (derivado da maconha) deu vida a ele, que hoje conversa, ri e até reclama”, observa.

A liminar favorável à Elaine foi concedida pela juíza da 36° Vara Federal de Pernambuco, Carolina Souza Malta. Na decisão, a magistrada pede que as autoridades se abstenham de “adotar qualquer medida voltada a cercear a sua liberdade” de locomoção, produção e cultivo da planta, “adstrito o salvo-conduto à quantidade suficiente para a produção do seu próprio óleo, com fins exclusivamente medicinais”.

Ainda, a juíza concede autorização para que a mulher repasse “plantas e flores para teste de quantificação e análise de canabinóides a órgãos e entidades de pesquisa, ainda que em outra unidade da Federação, para fins de parametrização laboratorial, com a verificação da quantidade dos canabinóides presentes nas plantas cultivadas, qualidade e níveis seguros de utilização dos seus extratos”. Agora, Elaine espera que outras famílias consigam o mesmo direito. “Uma ampola importada de óleo é mais de R$ 1.000”, pontua.

“As pessoas têm medo de serem presas por causa da lei de drogas. Como é um caso especial, que demanda uma atenção maior, criamos um grupo de trabalho para analisar os casos na DPU”, comenta a defensora pública federal Tarcila Maia Lopes. “Usamos várias teses jurídicas para fundamentar nosso pedido. A principal é a do autocultivo para consumo próprio. Depois, tem também o estado de necessidade, que é quando a pessoa não tem alternativas terapêuticas”, explica Tarcila que forma o grupo com os defensores André Carneiro Leão e Francisco de Assis Nascimento Nóbrega.

Importação

A Anvisa aprovou ontem mudanças no processo de autorização para que pacientes possam importar de produtos à base de canabidiol. A agência passará a exigir apenas a prescrição médica para análise de cada pedido, o qual deve ser feito por meio do Portal de Serviços do governo federal. (Diogo Cavalcante)