Saguis não morreram de febre amarela Exames apontaram vírus do herpes e do zika, o que poderá facilitar a reinfecção em seres humanos

Publicação: 23/01/2020 03:00

Os saguis encontrados mortos em Aldeia, Camaragibe, não tinham o vírus da febre amarela, informou ontem a Secretaria Estadual de Saúde. Os exames apontaram presença de outros dois vírus: zika e herpes. É a primeira vez que o zika é encontrado em macacos em Pernambuco, o que pode significar um ciclo silvestre. Nesse caso, o sagui é hospedeiro na transmissão e circulação, o que facilita a reinfecção nos humanos. A suspeita é investigada. No Brasil, há registros de zika em macacos em Minas Gerais e São Paulo, sem confirmação de ciclo silvestre.

Além da febre amarela, estão descartadas dengue e chikungunya. Ainda são apurados envenenamento ou raiva, além do próprio herpes e do zika - este último menos provável, já que normalmente não é letal ao animal. O Laboratório Central da Bahia analisa a presença da raiva nas amostras, e a Polícia Científica investiga envenenamento. “Seria arriscado fechar em uma hipótese, mesmo sabendo que herpes é letal em macacos. O zika deixa o macaco letárgico, mas não é letal”, explicou Luciana Albuquerque, secretária executiva de Vigilância em Saúde do estado. A letargia torna o animal mais vulnerável a ações humanas violentas.

Entre 26 de dezembro e 7 de janeiro, a SES foi notificada da morte de 17 macacos em dois condomínios de Aldeia. Em seis animais houve condições de coleta de material biológico para análise. No Instituto Evandro Chagas, no Pará, todas as amostras deram negativas em dois tipos de exame - PCR e imunoistoquímico. No Laboratório Central de Saúde Pública e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ambos em Pernambuco, todos deram negativo pelo PCR. Três amostras foram positivas apenas para zika, duas para zika e herpes e uma apenas para herpes.

“Em Pernambuco, não tinha sido encontrado macaco com zika. No Brasil, sim. Isso não quer dizer que a gente tem um ciclo silvestre. A gente tem estudado isso junto com o Ministério da Saúde”, pontuou Luciana Albuquerque. A secretária disse que a infecção por herpes nos macacos se dá quando as pessoas os alimentam.

Na investigação inicial da febre amarela, foi apurada a presença de dois possíveis vetores da doença, os mosquitos Haemagogos e Sabethes. Desta vez, será investigada a presença do Aedes albopictus, um dos transmissores do vírus quando se fala em zika silvestre.

“Ele pode servir de ponte para a transmissão silvestre e urbana, porque se alimenta de animais silvestres e sangue humano, diferente do Aedes aegypti, que busca alimento nas pessoas”, explicou Constância Ayres, pesquisadora da Fiocruz.

O secretário estadual de Saúde, André Longo, disse que, se confirmado o ciclo de zika silvestre, haverá maior dificuldade de controle do zika pela existência do hospedeiro.” Quanto à febre amarela, o secretário tranquilizou a população e disse que vai “centrar fogo” na vacinação. “Vamos manter a vacinação em Camaragibe, mas não com ações pontuais em condomínios. Os postos vão continuar vacinando e vamos continuar imunizando nos municípios onde a ação já foi iniciada no início do ano. A partir de março, ampliamos para todos.”

A Prefeitura de Camaragibe informou que suas equipes “seguem empenhadas no combate ao Aedes aegypti. Sobre os saguis, pede que quem encontrar animais mortos ou doentes telefone para 3458-0723.

Números

Vacinação em Pernambuco

  • Em janeiro, 43 cidades que compõem a III e V Gerências Regionais de Saúde (Geres) estão no foco da vacinação contra a febre amarela
  • A proteção é voltada para crianças de 9 meses até adultos de 59 anos
  • A partir de março, a expansão acontece para todo o estado, totalizando 8,4 milhões de pessoas beneficiadas
  • Desde janeiro deste ano, mais de 8 mil pessoas foram vacinadas contra a febre amarela nos municípios prioritários