Abram alas para os futuros carnavalescos Referências às crianças, ao circo e à democracia marcaram memorável show que iniciou folia no Recife

Publicação: 22/02/2020 03:00

O carnaval do Recife começou oficialmente com o colorido do circo, reverência às crianças e homenagens ao maestro Edson Rodrigues e ao Bloco das Flores. Pela primeira vez a população cega que acompanhou a festa no Marco Zero, na noite desta sexta-feira, contou com o serviço de audiodescrição, um marco de inclusão no evento.

A abertura começou com um cortejo de crianças que caminharam pelo Boulevard Rio Branco em direção ao palco principal. Acompanhado de orquestra de frevo, clarins, grupos de maracatu, bois e blocos líricos infantis, o desfile contou com a participação da Escola Pernambucana de Circo, com malabares e palhaços, fazendo alusão ao tema deste ano, O universo do circo, a criança e a cultura popular.

Um dos homenageados deste ano, o Bloco das Flores, que completa 100 anos em 2020, foi reverenciado pelo público por volta das 19h, quando começaram as apresentações no principal polo do carnaval do Recife. Integrantes do bloco lírico entregaram flores à plateia. O outro agraciado da festa, maestro Edson Rodrigues, com mais de 60 anos dedicados ao frevo, também se apresentou na noite de abertura.

Com o Bloco das Flores, se apresentaram o Rei Momo, Marcone dos Santos, e a rainha do carnaval do Recife, Ruana Karina. Frederico Batista, 68 anos, e Maria de Fátima dos Santos, 63, rei e rainha da Pessoa Idosa, além de Caio Rocha e Zemili Kasala, rei e rainha da Pessoa com Deficiência, respectivamente, também participaram da cerimônia de boas-vindas aos festejos.

Perto das 19h30, teve início o espetáculo de abertura com o multiartista Antônio Nóbrega, que prestou tributo ao educador pernambucano Paulo Freire nos primeiros minutos da apresentação. O performer também homenagem os povos indígenas.

Enquanto Nóbrega pedia proteção aos “guardiões das nossas matas e reservas da esperança”, imagens do líder indígena Paulino Guajajara, assassinado em novembro do ano passado no Maranhão; do ativista e ambientalista Chico Mendes, morto em 1988 no Acre, e do cacique Raoni eram exibidas nos telões do palco. “Salve o chão de Paulo Freire aqui no Marco Zero. Salve os povos indígenas. Salve todos os orixás e o povo dos terreiros”, saudou o artista.

Acompanhado por 10 músicos, 24 bailarinos e oito artistas circenses, Nóbrega apresentou O morro não tem vez, de Tom Jobim, e Luzia no frevo, de Antonio Sapateiro. Depois do espetáculo de abertura, teve início o bloco de atrações musicais. O público curtiu shows dos homenageados do carnaval do Recife 2020, além do Maestro Forró e da Banda Popular da Bomba do Hemetério, seguidos pelo brega romântico da cantora Priscila Senna.
 
Israelense estreia em grande estilo

 
A primeira experiência do estudante israelense Daniel Leiman, 22, em um carnaval, foi no Recife. A estreia aconteceu na abertura da festa, no Marco Zero, na noite da sexta-feira. No Brasil há dois meses, Daniel escolheu a cidade depois de uma pesquisa na internet. “Vi que era o carnaval onde as pessoas não precisam pagar para brincar e ficam fantasiadas nas ruas”, disse.

O aposentado José de França, 64, foi o responsável por mostrar as belezas da festa ao turista. “Lamento apenas que o maracatu não tenha a importância que tinha antes na abertura do carnaval do Recife. Não sabia que tinham colocado na quinta-feira a apresentação dos maracatus e, infelizmente, não vou poder mostrar esse lado do nosso carnaval a Daniel. O maracatu é tão importante para a nossa cultura quanto o frevo e merecia voltar para a noite de abertura”, opinou.  
 
Do Galo da ponte ao Recbitinho

 
A tradição do carnaval move gerações na família da enfermeira Bruna Gonçalves, 34. Desde cedo, ela aprendeu a amar a festa e faz questão de repassar a paixão para as filhas, Rana Joana, 8 anos, e Lara, 1. “Gosto de frevo e quero passar a essência e a alegria do nosso carnaval para elas. A minha filha já é apaixonada pela festa”, disse. A menina se arrumou cedo para ver a escultura do Galo na Ponte Duarte Coelho. De lá, a família seguiu para o Marco Zero.

“A gente veio ver o frevo, alguns blocos nas ruas do Recife Antigo, o espetáculo de Antônio Nóbrega e o show do Maestro Forró. Rana já pede para participar desses eventos e em breve será Lara”, contou a enfermeira, que usou a criatividade para produzir uma maquiagem de caveira mexicana. A família deve voltar para acompanhar a programação infantil do Recbitinho, versão infantil do festival Rec-Beat.
 
Mais de 10 anos de folia no Marco Zero

 
Assistir à cerimônia de abertura do carnaval do Recife é um dos momentos mais esperados pela psicóloga Josieda Saraiva, 64 anos, e sua prima, a assistente social Marilea Bezerra, 65. Naturais de Bodocó, no Sertão, elas moram na capital e, há mais de 10 anos, marcam presença no Marco Zero.

“O espetáculo com Antônio Nóbrega é belíssimo e gostamos também de ver o show do Maestro Forró”, disse Josieda. “Aprovo a retirada do maracatu da abertura porque, como são muitos grupos, a cerimônia acabava ficando muito longa. Agora, é mais dinâmica e eles têm um dia só para o maracatu”, completou.

As primas pretendem voltar ao Recife Antigo na segunda-feira para assistir ao cortejo dos blocos líricos. No domingo, a programação será em Olinda, onde querem ver a saída do bloco Enquanto Isso na Sala da Justiça.