CARNAVAL 2020 » Bairro do Recife é a cara da folia Principal polo da folia na capital pernambucana no Marco Zero da cidade, revela a diversidade de ritmos e uma explosão de cores e alegria

Publicação: 22/02/2020 03:00

Pernambucano que é pernambucano já começou a comemorar o carnaval desde que o Natal foi embora. Porém, nessa sexta-feira, finalmente, os recifenses puderam saudar oficialmente a folia de Momo de 2020. As cores, os confetes e as fantasias, antes tímidas nas prévias, invadiram as ruas da capital vestindo milhares de pessoas, que ao final dos quatro dias, de acordo com estimativa do governo, se transformarão em pelo menos 1,6 milhão de foliões.

A decoração da cidade, pensada pela equipe de arquitetura e engenharia da Fundação de Cultura Cidade do Recife, abraçou este ano o tema circense. “A criança, o circo e a cultura popular”, convidando a todos para entrar em um novo mundo lúdico. As pontes que ligam os bairros do Recife receberam pórticos que simulam bilheterias, por exemplo. Mesmo desfalcadas por ações de vândalos na madrugada da última quarta-feira, bandeiras e ilustrações de artistas de circo enfeitam as demais partes da cidade anfitriã.

Os mais atentos conseguiram reparar que alguns dos trapezistas e palhaços espalhados em banners pela rua representam pessoas com deficiência. De acordo com a prefeitura, esta é uma tentativa de ratificar o compromisso “com a inclusão na folia num carnaval democrático e que é feito para todos”. O palco do Marco Zero está sendo apresentado neste ano com o mais acessível do carnaval do Brasil e promete, durante todos os shows, contar com serviços de tradutores de libras para a população surda e de audiodescrição para os cegos. Para os que têm mobilidade reduzida, a estrutura conta com o serviço de translado todas as noites, começando as 18h e encerrando à 00h. Ele será feito por meio de um carro adaptado do PE Conduz, que espera os passageiros em frente à estação do BRT próxima à prefeitura e realiza o desembarque ao lado do palco do Marco Zero. Os locais que antes recebiam carros com os estacionamentos da Zona Azul, agora abrigam barracas de comida, transformando as ruas que cortam o centro em uma enorme praça gastronômica. Nelas você pode encontrar lanches rápidos, como pastel e coxinha, e refeições completas para aqueles que precisam de um bom prato de macaxeira para aguentar de pé os próximos shows.

Música para todos os gostos. Os blocos líricos arrastaram pelo Recife dos carnavalescos mais clássicos aos mais modernos. Também não faltaram caixas de som ao ritmo do passinho. No palco principal montado para a abertura, localizado no Marco Zero, o sincretismo é ainda mais explícito, com shows que vão desde os tradicionais frevos cantados por Antônio Nóbrega e o Bloco das Flores, um dos homenageados do carnaval deste ano, até o brega romântico de Priscila Senna.

É lógico que um carnaval multicultural e com tantas opções de diversão atrai os mais diversos foliões, de perto ou de longe, eles são trazidos na saudade pelo braço.
 
Uma família e três diferentes culturas

A família Thompson, assim como a folia de Momo da capital pernambucana, é uma enorme mistura. Clarissa Thompson, a mãe, nasceu em Pernambuco, encontrou o carioca Christopher Thompson no Rio de Janeiro e concebeu a pequena Melinda em São Paulo. Neste ano a família decidiu conhecer o carnaval do estado. “Decidi voltar e trazê-los porque já sabia o quanto o carnaval de Recife é ótimo. Veremos a abertura e amanhã vamos bem cedo ao desfile do Galo da Madrugada. Vamos fazer o roteiro completo”, disse Clarissa. “Eu já tinha ido ao carnaval de Olinda, mas nunca passei esse período aqui no Recife. Estou adorando esse encontro de culturas. Minha filha gostou dos Caboclos de Lança na Praça do Arsenal, é um ótimo lugar para trazer as crianças”, disse Christopher.
 
Palhaço de Olinda se veste para o Recife

A fantasia do palhaço mascarado do olindense Lieberton da Silva veio bem a calhar com o estilo do tema circense criado este ano para o carnaval do Recife. Mesmo sendo de Olinda, ele faz questão de participar da abertura do carnaval da capital. “Faz 10 ou 12 anos que eu venho para a abertura do carnaval de Recife com os meus amigos, faz tanto tempo que cumpro esta tradição que já esqueci ao certo. Todo ano estou aqui vestido de Palhaço de Olinda, fiquei feliz porque este ano combinou”, disse o dono de uma banca de apostas esportivas. “Mesmo que a fantasia seja uma tradição olindense, prefiro passar o carnaval no Recife. Acho que lá é muito tumultuado, aqui fico mais confortável. Espero que este ano possamos brincar em paz, até então não vi nenhuma confusão”, contou.
 
Carioca que ama o frevo pernambucano

A professora Cristina Ribeiro veio acompanhada de sua irmã, filha e marido. Ela mora há 12 anos no Rio de Janeiro, mas sempre que bate a saudade volta correndo para o carnaval recifense. “Não tem nem comparação. Aqui o clima é completamente diferente, é muito mais alegre e receptivo. Desde que me mudei para o Rio vim para cá quatro vezes, teria sido muito mais se o preço da passagem ajudasse”, comentou a foliona. “Se eu disser que sei quais shows terão no palco principal, estou mentindo. Mas estou aqui porque não tem como me decepcionar. O bom dessa cidade é isso, tem festa para todos os gostos e estilos. Quando tenho mais dinheiro posso procurar um camarote, quando não tenho posso brincar este maravilhoso carnaval de rua.”