Eliseu, o grande passista de Pernambuco Bailarino de Santo Amaro vence concursos desde quando era criança em 2010. Hoje, aos 20 anos, renova a tradição de mais de um século

SAMUEL CALADO
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Publicação: 22/02/2020 03:00

Quem vê Eliseu Nascimento, 20, brilhando nos palcos não imagina a luta que o jovem enfrentou para chegar até onde está. O bailarino vem colecionando vários títulos e se consagrou este ano como o melhor passista de frevo de Pernambuco tanto no concurso promovido pela Prefeitura do Recife como na internet. “Desde que eu perdi minha mãe, Dona Jeane, aos seis anos, a dança se tornou o caminho para eu seguir em frente. Tive que amadurecer muito cedo quando todo mundo da minha geração ainda estava pensando em brincar”, revela Eliseu.

O bailarino mora na comunidade de Santo Amaro, no Centro do Recife. “Frevo, maracatu, afoxé, ciranda, cavalo marinho, xaxado, forró, passinho do brega funk, caboclinho, brega e outros tantos. Pode tocar tudo que eu danço”, revela. Além do popular, o jovem também arrasa na dança de salão, no ballet clássico e nos movimentos contemporâneos.

Esta não foi a primeira vez que ele subiu ao pódio. No ano de 2010 com apenas dez anos, ele conquistou o primeiro lugar na categoria Juvenil I do concurso de passista realizado pela PCR. Depois disso, em 2011, 2017, 2018 e 2020, lá estava Eliseu subindo ao pódio nos concursos da RMR.

O apoio vem dos amigos, vizinhos e principalmente da família. “O meu neto cuida de mim, ele faz questão de me levar para os concursos. Neste da prefeitura, eu fui assistir a apresentação dele. Quando disseram que ele tinha ganho eu não sei como não desmaiei de tanta emoção. Eu tenho muito orgulho dele”, disse Maria José do Nascimento, 85.

O Irmão dele, José Jean Nascimento, 18, falou que quando vê as pessoas elogiando Eliseu, fica bastante emocionado. “O meu irmão dá exemplo para toda a família e para todos os oito irmãos. Sem falar que ele representa muito bem a nossa comunidade. Todo mundo acha que o pessoal aqui não presta, mas isso é mentira. Aqui é terra de gente batalhadora que levanta cedo para trabalhar”.

Através da dança, o jovem tem mostrado que a comunidade de Santo Amaro não é sinônimo de violência, mas sim a terra de grandes artistas. “Hoje em dia, a comunidade de Santo Amaro é uma das que mais tem artistas. Muitos vão para fora representar Pernambuco. Eu acredito que as pessoas precisam conhecer mais aqui. Aqui é a terra de Clara do Passinho, Werison Fidelis, Menininho, Sabrina, Moisés, Kaio Barbosa, Geovane Alves, Fernanda Ferreira, Jhon Bernardo e tantos outros. Eu já sofri preconceito por ser daqui, mas isso só dá garra para mostrar que eu não tenho vergonha, eu tenho é orgulho”.

Eliseu alerta sobre a desvalorização do profissional de dança. “Os passistas em Pernambuco são muito desvalorizados. Muita gente não leva a sério. Às vezes, o artista precisa se virar com o que tem para representar o país lá fora. Antigamente até tinha um incentivo financeiro para aqueles que quisessem disputar em concursos internacionais, mas hoje está difícil. A gente se prepara o ano inteiro e não é fácil. Nós investimos muito em treino, passagem, lanche, figurino, sapato e sombrinha”.

O sonho de Eliseu é se tornar um grande mestre da cultura popular e ajudar a família. “A minha família é minha base e eu quero poder presentear a cada irmão meu com uma casa. Eu só estou bem quando eles estão bem. E a minha vontade é de poder dar um maior conforto a todos eles. A gente não cresce só, a gente cresce junto”. Sobre ser inspiração para outros jovens da comunidade, o jovem dá o seguinte conselho: “Nunca desista daquilo que você acredita. A gente já nasce com o não da vida e batalha para receber o sim. No começo pode até parecer que tudo vai dar errado. Mas é preciso persistir”.