Naquela casa de muro azul desenhado com um passarinho amarelo existia um terreno desabitado repleto de lixo. O descarte era feito pela gestão municipal. E ninguém se importava muito com o lugar. Um dia, a família Oliveira chegou, limpou o espaço, construiu uma pequena residência de alvenaria e seguiu firme na ocupação. Isso foi há 40 anos. Os Oliveira fincaram raízes na Favela V8, um território marcado pela pobreza em pleno epicentro do carnaval olindense, no bairro do Varadouro. Um privilégio, do ponto de vista geográfico. Assim como a maior parte dos moradores da V8, V9 e V10, favelas vizinhas, os Oliveira assistem à passagem da alegria alheia ora trabalhando, ora integrando a rede de apoio a esses familiares. Buscam um extra para aliviar o aperto no bolso provocado pela escassez de empregos e pela invisibilidade histórica das favelas.

Na festa de cifras milionárias, Flávia Cristina de Oliveira, 40 anos, pediu dinheiro emprestado a um conhecido para colocar seus planos de vender pastel em prática. Ao final, espera tirar algum lucro para pagar o empréstimo com juros e ainda comprar algo extra para a casa. Dados da prefeitura apontam que, no ano passado, foi registrada a geração de mais de 100 mil empregos diretos e indiretos e uma movimentação financeira de R$ 290 milhões no carnaval de Olinda.

“Antes a gente negociava para comprar fogão, geladeira. Hoje, trabalha com dinheiro apertado. A crise tá grande. Mas o carnaval ainda é a melhor época do ano para ganhar dinheiro”, diz. Ela monta um ponto de venda na Avenida Joaquim Nabuco, quase na porta de casa. Lá, ela não paga a taxa exigida pela prefeitura para quem trabalha na Cidade Alta.

Flávia, de cinco filhos, mora na V8 desde criança. Há 25 anos é ambulante. Os três filhos menores, de 15, 12 e seis anos, deixa na casa da mãe dela, bem em frente ao seu imóvel, para seguir trabalhando tranquila no carnaval. Pega no serviço por volta das 10h e quando volta é perto da meia-noite.

Vai deixar almoço pronto por esses dias para não sobrecarregar a mãe, Maria Célia de Oliveira, 72, uma cobradora de ônibus aposentada. O cardápio prevê frango, macarrão, arroz e feijão. Flávia trabalha no carnaval, mas tem medo da violência. Preferia estar distante. “Trabalho porque preciso. Senão iria para uma praia. Tenho pânico de ver briga. Acho que tem que botar mais segurança.” Nem sempre foi assim. Quando criança, gostava de acompanhar o Elefante.

A rede de apoio para ganhar algum dinheiro no carnaval precisa sempre ultrapassar os muros familiares.  Há um mês um cano da Compesa estourou e enquanto aguarda ser ressarcida pela instituição, ela conta com ajuda de vizinhos para acomodar parte do alimento a ser vendido no carnaval.

Raio-X das favelas V8 e V9

• 850 imóveis cadastrados na V8 e V9
• 3.889 pessoas moram nas duas localidades

Saúde

• Centro de Saúde Joaquim Nabuco, na Avenida Joaquim Nabuco, 747, Varadouro
• Policlínica da Mulher, Avenida Joaquim Nabuco, 650
• Duas equipes do Programa de Saúde da Família
• Uma equipe de agentes de endemias

Educação

• Escola Santa Tereza, na Avenida Olinda, 750, com 324 alunos matriculados
• Escola do Rotary de Olinda, na Rua Jerônimo de Albuquerque, 100, no Varadouro
• A Rotary conta ainda com duas creches que atendem crianças de 2 a 4 anos: Sandra Morais Irene

Infraestrutura

• Vias calçadas e inauguradas: ruas Francisco Lauro Casseli, Palmira Magalhães e Tabira, além da Travessa Tabira
• Em execução: pavimentação da Avenida Beira Canal, que vai interligar a localidade com a PE-15 e a Avenida Joaquim Nabuco; Rua Farmacêutico Gonçalo de Freitas
• Foi assinada Ordem de Serviço para a construção de duas quadras, um campo e uma pista de cooper.
• Há projeto em andamento para pavimentar a Rua da Boa Hora com a Beira Canal

Fonte: Prefeitura de Olinda