Isolamento social evita colapso nos hospitais Unidades de referência ainda têm 50% de vagas livres nos leitos reservados a pacientes da pandemia

Rosália Vasconcelos
rosalia.vasconcelos@diariodepernambuco

Publicação: 04/04/2020 03:00

É graças à quarentena e à pouca movimentação nas ruas do Recife e Região Metropolitana que os hospitais da RMR ainda não estão colapsados. Mas a situação pode mudar a qualquer momento, já que o número de casos confirmados no país como um todo vem crescendo geometricamente. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), atualmente a taxa de ocupação média nos leitos dos três hospitais de referência destinados aos casos suspeitos e confirmados da Covid-19 tem se estabilizado numa média de 50%. As unidades são o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), que possui 59 leitos (sendo 49 de enfermaria e 10 de UTI), cinco no Correia Picanço (5 de UTI) e 21 no Imil (9 de enfermaria e 13 de UTI). Dos três, a pior situação hoje é a do Oswaldo Cruz, que já está operando com mais de 90% de sua capacidade, de acordo com profissionais de saúde que trabalham na unidade. O principal problema dos hospitais, até o momento, diz respeito à falta de equipamentos de proteção individual e de mão de obra.

No Hospital Oswaldo Cruz, por exemplo, pela insuficiente quantidade de EPI para o número de pacientes suspeitos que chegam diariamente à unidade, a dinâmica de trabalho precisou ser organizada de forma a reduzir ao máximo o uso dos EPI’s. Os profissionais que coletam as amostras de sangue precisam fazer a coleta uma vez por dia porque não há equipamento disponível para várias coletas por dia. Mas para quem precisa lidar diretamente com o paciente para administração de remédios, colocar e retirar acessos, entregar alimentação e dar banho em alguns casos, como auxiliares e técnicos de enfermagem, a situação é muito delicada.

“A máscara N95 é dada para passar cinco dias para quem trabalha na UTI geral. Outros setores, como o pessoal que trabalha no laboratório do Lacen-PE, estão sem e usam máscara cirúrgica normal e óculos. A máscara cirúrgica é dada para passar 12 horas e tem dia que falta. Tem plantão que temos avental descartável de TNT mas em outros temos que assumir sem EPI. Já aquelas roupas impermeáveis só usa quem é do Samu. Essa situação é ruim para nós, porque não podemos nos prevenir de maneira adequada, e para os pacientes, porque a infecção de um doente pode passar para alguém sadio. Além disso, não tivemos uma capacitação adequada para lidar com o paciente com Covid-19. Por enquanto, não há médicos e enfermeiros adoecendo, mas se continuar assim, é só uma questão de tempo”, relatou um funcionário que trabalha no Oswaldo Cruz.

De acordo com outros funcionários, os pavilhões estão sempre cheios, há uma grande rotatividade das ambulâncias chegando com pacientes suspeitos para a Covid-19 mas não existe superlotação e cada paciente tem seu leito. “Eu não quero nem pensar se o governo de Pernambuco não tivesse adotado medidas de contenção rapidamente como ficaria a situação dos hospitais daqui”, declarou uma funcionária do Huoc. Alguns profissionais de saúde, sem aguentar a carga de trabalho e pelos riscos que a atividade exige, chegaram a pedir exoneração dos cargos públicos no Oswaldo Cruz.

A situação se repete no Hospital Correia Picanço, que também é uma unidade de referência, e conta apenas com cinco leitos para crianças em estado grave. “Só estamos fazendo exames em pacientes graves e por isso o hospital está sempre lotado, chegam muitos casos. E aí falta luva, máscara de todo tipo, capote. Nós temos feito pedido de doação a outros hospitais”, contou uma funcionária.

Já no Imip, há disponibilidade de equipamentos de proteção individual até então e estão desprezando máscaras a cada 12 horas, prática que nem todo hospital mantém. “Mas limitam o uso de EPIs por profissionais, para evitar estragos ou uso desnecessário. Fora isso, não estão tendo muito controle de estratégias de isolamento. A porta não tem nenhum instrumento de liberação para quem está dentro, como uma trava. Qualquer pessoa, profissional, entra. E a UTI está sendo usada como clínica. Por exemplo, tem um gasômetro: todo mundo entra na UTI para usar o gasômetro usando apenas máscaras N95 e saem de lá. Ninguém sabe como essas pessoas acondicionam ou descartam a máscara. São poucas as informações sobre como fazer com esses materiais”, informou um profissional de saúde.

Biblioteca aberta

Já os pacientes, de acordo com os relatos, nem sempre estão usando o sistema fechado de aspiração. “Fica o paciente consciente, orientado e tossindo. Significa que os profissionais ficam mais expostos. Protocolo existe, mas falta a cobrança da aplicação dele”, afirmou uma funcionária. A biblioteca do Imip também continua funcionando normalmente e aberta ao público.