Hidroxicloroquina chega às comunidades Caravana Doutores de Verdade orienta o uso da medicação para sintomas leves da Covid-19. Grupo já atendeu 200 pessoas de bairros do Recife e Jaboatão

Publicação: 20/05/2020 03:00

Alvo de debates nas comunidades médicas, o uso da cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19 vem ganhando terreno no Brasil. Um novo protocolo sobre o uso dos medicamentos deve ser apresentado pelo Ministério da Saúde hoje. Por enquanto, as “Diretrizes para diagnóstico e tratamento da Covid-19” do órgão federal fornecem orientações para uso da cloroquina como opção para quadros graves, ou seja, apenas para pacientes hospitalizados com pneumonia viral. Em Pernambuco, um grupo de médicos tem percorrido comunidades para orientar sobre o uso e oferecer a hidroxicloroquina a moradores com sintomas leves da doença. A ação, iniciada há cerca de 20 dias, passou por bairros do Recife e de Jaboatão dos Guararapes. O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), que está investigando a caravana Doutores de Verdade, segue as orientações do Conselho Federal de Medicina (CFM), de não recomendar o uso da hidroxicloroquina, mas de autorizar que os médicos, junto com seu paciente, decidam sobre a utilização da droga.

Um dos médicos da ação que visita comunidades da Região Metropolitana do Recife, o pneumologista, alergologista e imunologista Antonio Aguiar Filho afirma que “já apareceram evidências científicas mostrando os efeitos positivos da hidroxicloroquina associada à azitromicina”. Segundo ele, um grupo de 200 pessoas já foi atendido gratuitamente em ações que aconteceram no Alto José Bonifácio, na Avenida Norte, na Muribeca e no Centro de Jaboatão. Desse total de pacientes, de acordo com o médico, apenas um óbito foi registrado. Três pessoas precisaram ser internadas, mas se recuperaram da doença e as outras 196 ficaram curadas. “Ninguém é obrigado a usar. Todos assinam um termo e são informados, tanto verbalmente quanto por escrito, sobre os efeitos”, disse Antonio Aguiar.

O médico afirmou que a medicação só é recomendada a pacientes que procuram a ação e que apresentaram sintomas em, no máximo, 72 horas. “Já utilizei em pacientes de 98, 94 anos. Para os atendimentos, transformamos os espaços em ambulatórios, levamos material e medicamentos que recebemos como doação. Não aceitamos doações em dinheiro e a consulta é gratuita”, explicou. O pneumologista ressalta saber que o uso não é consenso na medicina, mas que, a partir das experiências clínicas dos pacientes, acredita na eficácia do remédio. “Iniciamos essa ação por falta desse tratamento por parte dos governos estadual e municipal. Víamos que era possível melhorar o tratamento. Caso o estado e o município comecem a usar (em pacientes com quadros leves da Covid-19), encerraremos a ação”, pontuou.

A ação nas comunidades fez com que o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) oficiasse o Cremepe para saber que providências o órgão tomou em relação ao fato. O conselho informou que abriu uma investigação, que corre em sigilo. O Cremepe segue a orientação do Conselho Federal de Medicina, que condiciona uso de cloroquina e hidroxicloroquina a critério médico e consentimento do paciente. O CFM orienta que os médicos só recomendem o uso em três cenários: quando o paciente está em estado crítico, internado em terapia intensiva, com lesão pulmonar estabelecida; quando o paciente, com sintomas de coronavírus, chega ao hospital e quando o paciente tem sintomas leves, parecidos com o da gripe comum. Nesse caso, o médico pode usar a hidroxicloroquina, descartando a possibilidade de que o paciente tenha: influenza A ou B, dengue, ou H1N1. A decisão deve ser discutida com o paciente. O CFM lembra, porém, que a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, em documento publicado no dia 11 de abril, recomenda que a hidroxicloroquina e a cloroquina, isoladamente ou associadas a azitromicina, só sejam utilizadas em pacientes internados apenas dentro de protocolos clínicos de pesquisa.

Estado
Em coletiva de imprensa na última segunda-feira, o secretário estadual de Saúde, André Longo, explicou que, no momento, o protocolo vigente no estado é do Ministério da Saúde, que recomenda a utilização da hidroxicloroquina ou cloroquina no ambiente hospitalar, para pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Ele disse que há muitas fake news sobre o tema e que o estado não tirou os remédios das drogarias. “Recebemos 170 mil comprimidos que foram distribuídos para 63 unidades de saúde”, disse.