INEFICAZ » Rede municipal retira cloroquina de seu protocolo

Publicação: 26/05/2020 03:00

O Recife anunciou ontem a retirada da cloroquina e da hidroxicloroquina do protocolo de tratamento da Covid-19, após um estudo feito com 96 mil pacientes, publicado na sexta-feira, na revista The Lancet, apontar que o uso desses remédios, sozinhos ou combinados com macrolídeos - grupo de antibióticos dentre os quais se destaca a azitromicina - não tem benefícios comprovados no tratamento de pacientes infectados com o novo coronavírus. Com base nesse estudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) também desaconselhou a aplicação.

O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, disse que, mesmo antes da publicação do estudo, não havia recomendação para a utilização das drogas na atenção primária do município. “A Prefeitura do Recife não só não recomendará o uso da cloroquina e hidroxicloroquina na atenção primária à saúde, que já era a nossa posição, como vai retirar a medicação do protocolo de uso hospitalar. Naturalmente, casos muito específicos e devidamente justificados pela equipe médica serão considerados, mas fora do protocolo, se for o caso. Essa posição será mantida enquanto não houver novas evidências falando o contrário”, afirmou.

Segundo o secretário, a Prefeitura do Recife toma as decisões relacionadas ao assunto ouvindo um núcleo de evidências do município. “Na sexta-feira, foi publicado esse trabalho, que é um divisor de águas. Ele provoca um revés muito duro no uso da cloroquina e hidroxicloroquina no mundo tudo. Esse estudo encontrou que não só não havia impacto benéfico em pacientes com Covid-19, mas encontrou maior risco de morte de pacientes hospitalizados e maior risco de distúrbios do coração”, disse.

Também na sexta-feira, o Ministério da Saúde publicoou protocolo sobre o uso das medicações, inclusive em casos leves. Na manhã de ontem, a OMS enviou à direção do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) um e-mail recomendando a suspensão do uso. O Huoc participa, representando Pernambuco, do estudo mundial Solidarity (Solidariedade), realizado pela OMS em mais de 100 países. De acordo com o médico Demetrius Montenegro, chefe do setor de Infectologia do Huoc, a OMS pediu a todos os hospitais que fazem parte deste estudo para suspenderem o “braço que utiliza a cloroquina no estudo.”

“Tínhamos dois braços (no estudo), que eram o de não utilizar ou utilizar a cloroquina. A recomendação foi quem está utilizando concluir o curso do tratamento, mas nenhum paciente iria mais entrar no estudo”, esclareceu Demetrius. “A cloroquina estava no protocolo do hospital por conta do estudo e não como de uso generalizado”, completou o médico.

No Brasil, o ensaio clínico é coordenado pela Fiocruz. A iniciativa foi lançada pela OMS no dia 20 de março.