PANDEMIA » A missão dos profissionais dos serviços funerários

Ana Carolina Guerra
Especial para o Diario
carol.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/06/2020 03:00

Durante a pandemia do novo coronavírus, profissionais ligados às atividades funerárias se reiventaram diante de um cenário incomum. A precarização do sistema de saúde e grande número de mortes também enfatizaram a necessidade dos serviços fúnebres para as famílias e amigos das vítimas da Covid-19, impedidos de realizar cerimônias.

Os profissionais que atuam nos serviços funerários tiveram que se adaptar  à nova realidade. Nas mortes suspeitas ou confirmadas pela Covid-19, não há velório. A família pode contar com uma palavra rápida da cerimonialista antes do sepultamento. Já nos casos de morte por outros motivos, o tempo de velório é reduzido e a cerimônia conta com a presença de poucas pessoas.

Iraquitan Fernando é agente funerário e Sheila Lima trabalha como cerimonialista fúnebre. Ambos fazem parte das equipes do cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, Região Metropolitana do Recife.

Iraquitan, de 41 anos, atua nesta função há quase dois anos e há seis meses trabalha no Morada da Paz. O agente é um dos responsáveis por abordar a família logo após o falecimento do parente, e iniciar os trâmites para liberação e translado do corpo para preparação para o velório e sepultamento ou cremação.

O profissional conta que começou a trabalhar na área depois de passar 11 meses desempregado e que se identificou com a profissão. “Sempre lidei bem com a morte. Atendo os clientes com carinho, como se eu tivesse perdido um ente querido. É um momento muito difícil em que precisamos de muito equilíbrio para dar suporte e lidarmos com as emoções deles”, relatou.

Apesar das diferentes funções exercidas entre os profissionais de atividades funerárias, Iraquintan contou que a maioria das pessoas não sabe qual é o papel exercido pelos agentes funerários. “Confundem com a profissão de coveiro, que também não tem sua importância reconhecida. Exerço com tanto amor e respeito que não tenho com o que me constranger. Sempre explico o que faço e mostro qual o meu papel nesse momento tão difícil na vida das pessoas”, revelou.

A cerimonialista fúnebre Sheila Lima, de 42 anos, encontrou a profissão sem saber sobre a função que os profissionais exerciam. Antes de trabalhar no cemitério, Sheila atuou na área comercial.

“Eu tinha o desejo de voltar ao mercado numa atividade em que me sentisse realizada. Não sabia qual e como era a função para a qual tinha me candidatado quando soube da vaga. Pesquisei e topei o desafio. Minha atividade é ouvir, cuidar e amenizar a dor de pessoas de todas as idades que perderam um ente querido”, contou.

Apesar de estar na profissão há quase dois anos, Sheila disse que um dos momentos mais difíceis é quando as histórias das famílias se misturam com as experiências vividas por ela na vida pessoal, e que agora teve que transformar os sentimentos em cuidados.

“Compenso os abraços de alento que não posso dar com palavras ainda mais calorosas de conforto e pesar.  Antes eu morria de medo de cemitério. Passava pela frente fazendo o sinal da cruz. Hoje acho que nasci para isso”, revelou.

Somente no Morada da Paz, houve um aumento de 143% no número de atendimentos de serviços funerários. Deste total, 50% foram de casos suspeitos ou confirmados da Covid-19. Os dados foram comparados com o mesmo período do ano passado. No mês de maio, 20 funcionários foram afastados em decorrência de suspeita do coronavírus. Dois casos foram confirmados.