Inquérito será concluído com depoimento de Sarí Polícia ouviu por cerca de seis horas a primeira-dama de Tamandaré, acusada de homicídio culposo

EMMANUEL BENTO
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Publicação: 30/06/2020 03:00

Às 5h50 de ontem, a Delegacia Seccional de Santo Amaro, no Recife, abriu as portas, mais de duas horas antes do início de seu expediente, para que o delegado Ramon Teixeira colhesse o depoimento de Sarí Gaspar Côrte Real. Ela é apontada pela Polícia Civil de Pernambuco como responsável pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, filho de sua empregada doméstica, Mirtes Renata Santana de Souza, no último dia 2 de junho. O inquérito policial deve ser concluído nesta semana.

Foram mais de oito horas entre a chegada e a saída de Sarí da delegacia, onde prestou depoimento e ficou cara a cara com a sua ex-funcionária. As duas se encontraram pela segunda vez após a morte do menino. Após o encontro, Mirtes afirmou que a ex-patroa não demonstrou nenhum arrependimento em relação ao caso. “Ela é fria e calculista. Ela é um monstro”, disse.

Sarí não falou com a imprensa. Mesmo com veículo próprio no local, a primeira-dama de Tamandaré precisou ser escoltada por uma viatura do Coordenação de Operações e Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, devido aos protestos no lado de fora da delegacia. O carro foi atingido por objetos e socos pelos manifestantes, que também entoaram xingamentos contra ela.

A primeira-dama foi autuada em flagrante, pela Polícia Civil, no dia 2 de junho por homicídio culposo. Miguel estava sob sua guarda temporária porque Mirtes Renata tinha saído rapidamente do apartamento, no edifício Píer Maurício de Nassau, no condomínio de luxo conhecido por Torres Gêmeas, bairro de São José, para passear com os cachorros da patroa.

A atitude de abrir a delegacia horas antes atendeu a um pedido da defesa, que temia pela integridade física da primeira-dama. Mas a família da criança ficou indignada com a antecipação do expediente para o depoimento de Sarí, principalmente a mãe de Miguel.

“Eu só fiquei sabendo que ela estava aqui de manhã porque vi na TV, na imprensa. Acho isso um absurdo. Ela é uma pessoa qualquer, então deveria ter esperado a delegacia abrir em horário normal. Por que mais cedo? Por que esse privilégio? Ela não tem cargo político nem curso superior”, disse Mirtes, ao chegar no local, por volta das 8h30. Nesta segunda, às 10h, a família de Miguel iria realizar um protesto em frente à delegacia.

Mirtes segurava uma foto de Miguel nos braços e estava acompanhada das irmãs Fabiana e Erilourdes. Em seguida, chegou o advogado, Rodrigo Almendra, e posteriormente, Marta Souza, avó da criança. E na rua, anônimos se juntavam à família, em um protesto que acabou potencializado por causa do desenrolar da situação.

CONCLUSÃO

“Considerando os argumentos relativos à possibilidade de aglomeração de pessoas e o risco de agressão à depoente por parte de populares, o delegado deferiu o requerimento. Saliente-se que esse deferimento não enseja nenhum prejuízo aos trabalhos de investigação”, afirmou a Polícia Civil de Pernambuco, em nota.

Sete pessoas prestaram depoimento ao todo. Além de Sarí, um morador do edifício, que ajudou a socorrer o garoto; o zelador do edifício, Fábio Batista; o ex-síndico do prédio, Carlos Nobre; a manicure Eliane Lopes, que estava na casa da primeira-dama no dia da morte, e o gerente de operações do edifício, Tomaz Silva, que também ajudou no resgate da criança. A mãe de Miguel, Mirtes, foi ouvida duas vezes, no dia do ocorrido, 2, e no dia 25.

A previsão é que o inquérito, com a ouvida de Sarí seja concluído antes de 2 de julho.