Mirtes, mãe de Miguel, e o desafio de seguir em frente Um mês após da morte do filho, que caiu do nono andar de um prédio no Recife, mãe tenta encontrar forças para viver

DIOGO CAVALCANTE
diogo.couto@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 03/07/2020 06:30

Neste 2 de julho, fez um mês que o menino Miguel Otávio de cinco anos morreu. Desde a morte do filho que caiu do 9º andar do Edifício Píer Maurício de Nassau, no bairro de São José, Centro do Recife, a vida da doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, de 33 anos, virou pelo avesso. Sem Miguel, só lhe restou batalhar para conseguir que sua ex-patroa, Sarí Côrte Real, primeira-dama de Tamandaré, seja punida por ter deixado a criança ficar sozinha no elevador. Na quarta-feira, Sarí foi indiciada pela Polícia Civil de Pernambuco por abandono de incapaz com resultado morte e, caso condenada pela Justiça, pode pegar de 4 a 12 anos de reclusão.

Uma missa de um mês da morte de Miguel foi celebrada ontem às 19h, na Igreja Imaculada Conceição, no Barro, Zona Oeste do Recife. Mirtes e a avó de Miguel, Marta, participaram da celebração. Horas antes, Mirtes concedeu entrevista ao Diario, onde  contou ter se sentido “5% em paz” com o indiciamento de sua ex-patroa. Ela não entende como está conseguindo aguentar sem o filho por perto. “Está muito difícil passar esse tempo sem ele. Virão mais meses e anos sem tê-lo comigo. Não sei se vou aguentar passar esse tempo todo sem Miguel. Eu vivia para ele. Todo o sacrifício que fazia era em prol dele. Era uma criança extremamente feliz. Aquele sorrisão dele era tudo para mim”, relembra.

Na ladeira onde fica a casa da família, crianças da mesma idade do Miguel brincavam. As brincadeiras deixam Mirtes ainda mais saudosista. Ela recorda da alegria de seu filho quando se juntava à turma. “Ele ficava brincando na rua, corria. Corria também dentro de casa. Ele adorava ficar brincando. De noite, pedia para dormir junto comigo na mesma cama. A gente rezava. Às vezes era ele quem me colocava para dormir. Agora não tenho mais meu neguinho por conta da irresponsabilidade daquela mulher”, relembra.

A bicicleta e o patinete do filho estão encostados na sala. No quarto, onde dormiam Mirtes e Miguel, as duas camas estão arrumadas. Em uma delas há roupas empilhadas: “Deus vai me dizer, no momento certo, o que fazer. Mas tudo que pertencia ao meu filho está guardado e preservado. Não penso em doar”. Olhando em volta, ela conta algumas “trelas” do menino. “Uma vez ele arranhou a porta da minha geladeira brincando. Na hora disse ‘desculpa, mamãe!’. Ele tem um carrinho que ele brincava dizendo que era o Uber dele”, contou a mãe.

PATROA
Sarí e Mirtes tinham uma boa relação até então. Mas a mãe de Miguel ficou decepcionada com a forma como que sua ex-patroa lidou com o caso. “Ela deixou meu filho de qualquer forma ali (no elevador). Não teve a menor preocupação em saber para qual andar ele estava indo, de ligar para a portaria para que o porteiro me chamasse de volta ou olhasse no painel das câmeras para onde ele estava indo. Simplesmente ela entrou no apartamento e voltou a fazer as unhas. A manicure perguntou ‘cadê Miguel?’ e ela disse que ‘mandou ele passear’. Porque não deixou a filha dela ir passear junto de Miguel? Ela abandonou meu filho dentro do elevador. Todo mundo viu pelas imagens”, desabafou.

Mirtes também não se conforma com o fato da ex-patroa não admitir que errou.  “Ela disse que a culpa do que aconteceu era de Miguel, que ela não fez nada. É muito bom botar a culpa em uma criança de cinco anos, mas ela é uma adulta. Tem 30 anos. Se ela não se acha responsável por uma criança, então ela não se acha responsável pelos próprios filhos”, disparou. Outro ponto que deixou Mirtes indignada foi a afirmação de que ela e Marta, que também trabalhava como doméstica para a família de Sarí, estiveram na casa da patroa em Tamandaré sem fazer nada. “Se a gente estava à toa, quem que estava arrumando a casa, deixando limpinha, cheirosinha, passando roupa, fazendo comida?  

A mãe de Miguel só pensa agora em justiça. “Eu quero a justiça. Agora tem as próximas etapas, com o Ministério Público (MPPE) e com a Justiça (TJPE). Espero que dê tudo certo, porque vou continuar batalhando. Quero que ela seja condenada, presa, que pague pelo que fez com meu filho. Pode demorar o tempo que for, mas eu vou até o fim. Não vou descansar. Não admito pena alternativa, ela tem que ir para a cadeia como todo mundo que comete crime”.