Na Várzea, máscara é item opcional O bairro na Zona Oeste do Recife é o segundo com o maior número de casos de Covid-19, mas parte dos moradores parece ignorar normas de segurança

Fillipe Vilar
Especial para o Diario
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Publicação: 04/07/2020 08:00

Com o segundo maior número de casos confirmados de Covid-19 do Recife, o bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, ensaia voltar à rotina. Na tarde de sexta-feira, na Praça da Várzea, principal ponto de movimentação da localidade, algumas pessoas aproveitaram a brecha de sol que o dia antes nublado deu para caminhar, jogar futebol ou conversar com amigos. Algumas dessas pessoas não usavam máscara, apesar do uso do equipamento ainda ser considerado fundamental para evitar a propagação da doença causada pelo novo coronavírus.

A Várzea tem uma população de 70.453 pessoas, segundo o Censo de 2010. No bairro, de acordo com o boletim epidemiológico da Prefeitura do Recife do dia 3 de julho, houve o registro de 298 pessoas com Covid-19, 3,8% do total de casos da cidade, com 70 mortes. Ao serem perguntados sobre a gravidade da pandemia, os moradores do bairro reconhecem o problema, mesmo aqueles que deixaram de lado o uso da máscara.

É o caso do comerciante José Antônio da Silva, 48 anos, que há quatro anos tem uma barraca de venda de frutas na Praça da Várzea. Sem máscara, ele conversava com alguns amigos - um homem e uma mulher -, que estavam com as máscaras no queixo, usando de forma incorreta. “Olhe, dos bêbados que vivem por aqui na praça, nenhum pegou esse negócio, não. Já meus clientes velhinhos, acho que foram embora uns 10 com essa doença”, comentou José Antônio.

“Desde que começou esse negócio de pandemia, o movimento no meu comércio de rua até melhorou. Antes, as pessoas iam de lugar em lugar, passeando, pesquisando preço. Agora a pessoa sai de casa e já vem no lugar certo do que quer”, continuou José Antônio, que acredita que os seus conhecidos que morreram de Covid-19 não tiveram atendimento necessário. “O que me disseram é que foi falta de leito, fico revoltado com isso”, afirmou.

Quando questionado sobre o motivo dele estar sem máscara, o comerciante desconversa. “Eu tenho um monte de máscara ali na minha barraca. O pessoal que tá comigo ninguém pegou. Inclusive todo dia vinham uns carros dar refeição a eles desde que começou isso. Eu mesmo acho que já peguei há uns dois meses, tive todos os sintomas, mas estou bom”, disse. O comerciante se referia a algumas pessoas em situação de rua, que vivem na praça e convivem com os comerciantes locais.

De acordo com a Prefeitura do Recife, a Praça da Várzea foi um dos lugares contemplados para receber as Estações Itinerantes de Orientação para Covid-19. Os profissionais ficam em um toldo localizado ao lado de uma unidade da Academia da Saúde, administrada pela prefeitura, que funciona na praça. Eles distribuem máscaras e orientam a população que frequenta o ponto sobre os novos protocolos relacionados ao coronavírus. O projeto está sendo implementado desde o dia 26 de junho.

Na sexta, a Prefeitura do Recife anunciou que deve distribuir mais 200 mil máscaras em comunidades de toda a capital pernambucana, por meio das Estações Itinerantes. O projeto deve ser ampliado para as localidades mais carentes da cidade, informou a gestão.

A estação da Praça da Várzea estava funcionando quando a reportagem do Diario chegou ao local, mas por volta das 15h40 todos os profissionais de saúde já tinham ido embora. Ao lado, um grupo de jovens jogava bola na quadra. Alguns sem a máscara, aproveitando o fim de tarde.