No Morro da Conceição, a fé por dias melhores Mesmo numa Festa de Nossa Senhora marcada pelos cuidados com a pandemia, fiéis não abrem mão do contato próximo com a santa padroeira

FABSON GABRIEL
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Publicação: 01/12/2020 03:00

Há mais de um século o Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, recebe multidões de fiéis que peregrinam ao monumento dedicado a Nossa Senhora da Conceição. Sem procissões nem atividades culturais, a festa deste ano, marcado pela pandemia, tem suas missas transmitidas pela internet, mas a possibilidade de acompanhar à distância não é suficiente para muitos católicos que, tomando os devidos cuidados para evitar o cotágio, não abrem mão de subir ao morro. Nesta 116ª edição do evento, que segue até 8 de dezembro, o santuário passa a funcionar com 30% da capacidade, acomodando um público de 420 pessoas, sendo duas por banco.

Apesar do incentivo para as pessoas ficar em casa, muitos fiéis vão ao local para cumprir promessas ou buscar um sentido mais profundo em suas vidas. É o caso da engenheira de produção Emanuelle Silva, 37, que foi cumprir promessa pela saúde do seu amigo capixaba, Luiz Felipe Telles, 37, uma das vítimas de contaminação no escândalo da cervejaria Backer, em Minas Gerais, no ano passado. “Várias pessoas faleceram, inclusive o sogro dele. Ele sobreviveu, porém, com várias sequelas. Como eu não sabia se ele iria sobreviver eu me agarrei a Nossa Senhora e ela me deu o retorno. Enquanto uma pessoa que bebeu com ele a mesma quantidade faleceu, ele ficou vivo e está evoluindo. Tenho certeza que a minha Santa não deixou ele ir embora e intercedeu junto a Jesus”, afirma.

A fé também perpassa as gerações, como acontece na família de Graciete Carvalho, 85 anos, que leva seus filhos e netos para a festividade. “Sou devota há muitos anos e ela nunca me negou um pedido. Por isso estou aqui hoje. Não tenho nem como explicar”, conta.

Como neste ano a programação foi alterada em função da pandemia, a família da matriarca resolveu vir antes para evitar aglomerações. “As pessoas têm que ter fé, ainda mais no momento que estamos passando por uma dificuldade tão grande. Todo mundo sabe o que está acontecendo no mundo. E penso que a gente só atravessa isso se acreditarmos em alguma coisa. A fé em Nossa Senhora faz com que a nossa energia seja renovada e nos dá muitas esperanças para que as coisas aconteçam da melhor maneira”, afirma o aposentado Marcos Carvalho, 61, filho de Graciete.

A psicóloga Sofia Holmes Carvalho, 26, filha do aposentado e neta de Graciete, fala da relação da família com a festividade. “Desde os meus 13 anos participo ativamente na Igreja, por influência da minha avó. Sou devota de Nossa Senhora, inclusive tenho um tatuagem dela no braço. Para mim, Nossa Senhora é colo e conforto”, explica.

“Infelizmente neste ano a gente não vai poder estar presente na procissão. Mas aí a gente fez o que deu, e viemos antes, para ao menos poder olhar para ela e pedir proteção, pois como meu pai falou, esse é um momento que a fé está em prova. Quando a gente tem fé, as coisas se tornam um pouco menos difíceis", acrescenta a psicóloga.

Para a pedagoga Elisângela de Melo, 44, agradecer as bênçãos alcançadas é importante. “A minha relação com Nossa Senhora é muito forte, pois ela realmente faz o papel de mãe para mim. É muito importante vir, não só hoje, mas todos os dias do ano agradecer a Jesus. Estou agradecendo, principalmente, por ninguém da minha família, e nem eu, termos sido infectados pela Covid-19. Tenho certeza que o ano de 2021 será muito abençoado, com o fim da pandemia.”

Ocorrerão no Morro 63 celebrações previstas para serem transmitidas pela internet. Segundo a organização da festa, cerca de 300 voluntários, que receberam instruções de profissionais de saúde, ajudarão os fiéis que forem no santuário ao longo da semana toda.