Mosquito estéril pode erradicar as arboviroses Projeto que reduziu em 60% a proliferação do Aedes aegypti em Brasília Teimosa foi apresentado à Agência Internacional de Energia Atômica

ANA CAROLINA GUERRA
ESPECIAL PARA O DIARIO
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Publicação: 16/07/2021 06:15

A pandemia da Covid-19 tornou menos visível um outro grave problema de saúde pública: as arboviroses. Transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, doenças como dengue, zika e chikungunya continuam causando sérios problemas à população, como sequelas temporárias ou permanentes e risco de vida no caso da dengue hemorrágica. A transmissão desses vírus está na mira de um projeto de utilização de insetos estéreis que vem sendo testado no Recife e foi apresentado ontem à Agência Internacional de Energia Atômica, desenvolvedora da técnica. O encontro aconteceu no bairro de Brasília Teimosa, na Zona Sul, com a presença do diretor geral da Agência, Rafael Grossi.

O método consiste na liberação de grandes quantidades de insetos inférteis - geralmente machos -, impedindo a procriação de novos mosquitos após o cruzamento com as fêmeas. O macho é escolhido por não se alimentar de sangue humano. A liberação pode ser feita com uso de drones.

“Três países estavam no estágio mais avançado no uso de insetos estéreis: Brasil, México e Cuba. O México suspendeu as atividades, Cuba concluiu o experimento e o Brasil deu sequência. O bairro de Brasília Teimosa, como todo o país, vivem uma situação muito delicada do ponto de vista de proliferação dessas doenças. Durante a pandemia continuamos o monitoramento”, afirmou o diretor presidente da biofábrica Moscamed, que participa do estudo, Jair Virginio. Segundo ele, 500 mil mosquitos são liberados duas vezes por semana, durante o período diurno. O projeto foi implantado em outubro do ano passado e a fase inicial tem duração de dois anos.

“Conseguimos uma redução de 60% na taxa de desenvolvimento dos óvulos, ou seja, a proliferação não aconteceu. Nos dias em que os insetos são liberados, a comunidade é avisada e é solicitada a suspensão do uso de inseticidas para que não matem os estéreis”, disse.

“Aqui temos um projeto que dá certo. É muito importante um programa desses na América Latina, porque é diferente de importar um modelo da Europa ou dos Estados Unidos. Para nós, é muito melhor apoiar um projeto local. Estamos demonstrando o que podemos fazer. Não são necessários muitos recursos, essa é a beleza dessa tecnologia. Aqui já temos dados interessantes e, com continuidade, chegaremos a uma erradicação completa”, disse Rafael Grossi. Ele acrescentou que no Senegal, país situado no Oeste da África, a técnica livrou a população das arboviroses por completo.

Coordenador do Programa Nacional de Arboviroses do Ministério da Saúde, Cássio Peterka ressaltou a necessidade de novas estratégias de combate às arboviroses. “Estamos trabalhando para que as tecnologias venham complementar as ações e para que nós consigamos diminuir o uso de inseticidas químicos”, declarou.

A secretária-executiva de Vigilância à Saúde do Recife, Marcella Abath, afirmou que a cidade vem se destacando no uso de tecnologias limpas no enfrentamento das arboviroses. “A técnica dos mosquitos estéreis, por ser feita através de radiação, é limpa, e se soma a outros esforços da prefeitura em utilizar métodos que minimizem os impactos ambientais, a exemplo do larvicida biológico BTI”, comentou.

Números

8.824 casos de arboviroses foram notificados no Recife até dia 26 de junho deste ano:
  • 3.845 de dengue
    - 1.160 casos de dengue foram confirmados

  • 4.860 de chikungunya
    - 3.029 casos de chikungunya confirmados

  • 119 de zika