O homem que alfabetizou em 45 dias Apesar dos resultados de seu método, Paulo Freire ainda é questionado por alguns grupos no Brasil, enfquanto seu trabalho é aplaudido no exterior

Thays Martins
thays.martins@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 18/09/2021 03:00

Tachado pelo governo Bolsonaro - de forma genérica e não embasada cientificamente - como o responsável pelos erros na educação brasileira, Paulo Freire foi um pedagogo e filósofo brasileiro, nomeado em 2012 patrono da educação no Brasil. Idealizador de uma metodologia avançada para alfabetização que inspira o processo pedagógico de diversos países.

Na Alemanha, o Instituto Paulo Freire e a Sociedade Paulo Freire mantêm projetos educacionais que construíram seus alicerces nos ideais do pedagogo brasileiro em que afirma que educação é um ato político, humanizador e de mudança social.

Em conversa com Artur Morais, professor titular do Centro de Educação da UFPE e pesquisador do CNPq, que investiga temas ligados ao campo da alfabetização e da formação de alfabetizadores, ele conta que o ‘Método Paulo Freire’ é mais que uma simples metodologia de alfabetização.
 
Entrevista // Artus Morais, professor do Centro de Educação da UFPE e pesquisador

Qual sua visão sobre o método de ensino Paulo Freire?

Já no final da década de 1970, um pouco antes de poder voltar ao Brasil, o próprio Paulo Freire já afirmava que o que ele tinha criado era uma epistemologia e não só “um método para alfabetizar adultos”. Na realidade, a genialidade de Paulo Freire está em ter ensinado que não existe educação neutra, que todas as propostas e práticas educativas são inerentemente ideológicas. E ele mostrou, ainda antes do golpe de 1964, que podemos e precisamos lutar por uma educação que assuma a defesa de um país mais justo. Isso se aplica não só à educação de jovens e adultos, mas a todos os níveis da escolarização, do berçário ao doutorado.

Você acredita que essa metodologia traz melhores resultados para a alfabetização de jovens e adultos?

Paulo Freire continua mais que atual. Num país com um histórico de tanta desigualdade, as políticas públicas educacionais precisam sempre assumir o legado que Freire nos deixou e praticar uma pedagogia da esperança. Uma pedagogia que produz cidadãos autônomos, conscientes e que lutam por direitos. A pedagogia  freiriana nos ensina não só a partir do universo cultural dos oprimidos e fortalecê-los no embate contra os mecanismos de dominação, mas, também, a respeitar a pluralidade cultural, a diversidade e as diferenças que não implicam opressão.

Você acredita que esse método de ensino vem sendo aplicado no Brasil?

Vemos que muitos educadores e instituições que atuam na educação, tanto escolar como não-formal, continuam se inspirando nos ensinamentos de Paulo Freire. Quando, por exemplo, discutimos, no Centro de Educação da UFPE, nosso projeto de formação de pedagogos e outros professores da educação básica, temos como um dos princípios fundamentais aquilo que Freire nos desafiou a assumir: nosso papel de formar educadores autônomos e competentes.