DP+SAúDE » Transplante de órgãos aumenta quase 60% De janeiro a julho, ocorreram 724 transplantes, uma variação positiva de 59,47%, quando comparado com o mesmo período de 2020

Fabson Gabriel
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Publicação: 27/09/2021 03:00

Quase duas mil pessoas estão na lista de espera por um transplante de órgão, de acordo com os últimos dados da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE). Diante de um cenário de baixa adesão da população para doação de órgãos dos entes que foram a óbito e com o abrupto surgimento da Covid-19 no ano passado, houve no período crítico da pandemia a suspensão de algumas cirurgias e o aumento da fila de espera, registrados pela Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE). Neste ano, no período de janeiro a julho, ocorreram 724 transplantes de órgãos e tecidos, uma variação positiva de 59,47%, quando comparado com o mesmo período de 2020, no qual apenas 454 cirurgias foram realizadas.

Segundo o balanço de transplantes da SES-PE, de janeiro até julho deste ano, foram realizadas 20 cirurgias de coração, três de valva, 371 de córnea, 127 de medula óssea, 60 de fígado, 142 de rim e uma dupla (fígado/rim). As doações dependem da autorização dos familiares.

No ano passado, foram suspensas as cirurgias de córnea e rim. Fígado, coração e medula continuaram, pois segundo a coordenadora, o paciente não tem alternativa de tratamento. Atualmente, todos os programas de cirurgia estão em funcionamento no estado. Em 2020, houve nove cirurgias de coração, 10 de valva, 208 de córnea, 107 de medula óssea, 41 de fígado, 78 de rim e uma cirurgia dupla de rim/pâncreas.

“É importante que quem não se declarou como doador, se declare. Pois, facilita muito a decisão da família na hora do falecimento. E também, acima de tudo, se colocar no lugar do outro. ‘E se eu precisar de um transplante, e se eu vir a precisar de um órgão para continuar vivendo? Será que vou querer ser transplantado?’”, reflete a coordenadora da Central de Transplantes, Noemy Gomes.

AVALIAÇÕES
O cirurgião cardíaco Carlos Moraes, que realizou o primeiro transplante de coração em Pernambuco, há 30 anos, e atual presidente do Instituto do Coração (Incor-PE), relata os avanços para as cirurgias. A mais significativa é a preservação do órgão antes de ir para o novo ‘dono’.

“Quando o coração tem condições de ser transplantado, nós temos atualmente o máximo de quatro horas para retirar o coração que está batendo no peito do doador, para colocar para bater no corpo do receptor. Outro progresso foi o aparecimento das drogas que ajudam a evitar a rejeição”, complementa.

Com três décadas de atuação, Moraes ressalta que os aspectos no processo de doação mudam em cada país. “Em Portugal, por exemplo, o indivíduo põe na carteira de identidade se ele é doador ou não. Se ele sofrer um acidente e for para o hospital, os médicos não precisam nem ligar para a família. Ele chega no hospital, por morte cerebral, por exemplo, os médicos já estão autorizados a retirar os órgãos”.

ESPERA

De acordo com a Central de Transplantes de Pernambuco, atualmente há 1.985 pessoas que integram a lista de espera de um órgão: 14 para coração, 85 para fígado, 1.006 para rim, 29 para medula óssea, 563 para córnea e 19 para cirurgias duplas de rim/pâncreas. Os números da cirurgia de rim chamam atenção devido à possibilidade de tratamento por hemodiálise.

“A mortalidade nessa lista é seis vezes menor do que na lista de coração e fígado”, explica Noemy Gomes.

Com a pandemia, algumas alterações foram feitas, conforme protocolos do Ministério da Saúde. O órgão do doador que teve Covid-19 só pode ir para o outro corpo 28 dias após a cura. Mas se a causa da morte for a Covid o transplante não pode ser realizado.