DP+SAúDE » A importância de desmistificar o câncer de mama em homens De acordo com o Inca, um a cada 100 registros é confirmado em pacientes do sexo masculino, mas ainda assim é preciso atenção aos riscos e sintomas

Júlia Rodrigues
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Publicação: 25/10/2021 03:00

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, com capacidade de formar um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Por muito tempo, essa neoplasia foi relativizada e, inclusive, descrita, equivocadamente, como uma doença que atinge somente mulheres.

Apesar de ser registrado com muito mais frequência no corpo feminino, o câncer de mama também pode atingir homens. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), em cada 100 registros dessa neoplasia 1 é confirmado em homens. Segundo o Atlas da Mortalidade por Câncer, 18.295 pessoas morreram em decorrência de complicações provocadas pelo câncer de mama em 2019, sendo 18.068 mulheres e 227 homens. O número pouco expressivo para o sexo masculino, contudo, chama ainda mais atenção para a necessidade de dar visibilidade e incentivar a procura do diagnóstico precoce.

A doença foi se revelando como uma escalada para Alexandre Silva. Tudo começou com uma coceira no peito direito, quando ele ainda tinha 48 anos de idade. De forma repentina, o radialista e produtor cultural passou a ter febre e calafrios constantemente. Depois, percebeu que uma secreção começou a sair da mama. Além disso, o peito mudou de cor e a auréola ficou mais dilatada. A partir daí, ele resolveu investigar o que estava por trás desses sinais. Procurou um mastologista, que disse para Alexandre não se preocupar, pois, segundo ele, “não era nada demais”. Passou apenas duas sessões de compressa na região durante aproximadamente 30 dias. Mas os sintomas persistiram e ele resolveu buscar outra opinião profissional.

Em uma ocasionalidade, fez a mamografia no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP). “Meu câncer foi diagnosticado logo no início, o que facilitou o tratamento. Minha esposa foi comigo e eu fiz a mamografia. A moça disse que em 15 dias sairia o resultado e eu fui embora. Quando cheguei perto da Conde da Boa Vista, meu telefone tocou”. Era a recepcionista do hospital dizendo que Alexandre precisaria passar por um outro exame. Quando retornou à unidade, fez uma ultrassonografia da mama e outra mamografia. Depois de aproximadamente 40 minutos, a médica o chamou. “Ela disse que eu tinha um problema sério, um câncer de mama agressivo e maligno. Chorou a médica, chorou minha mulher e eu me mantive tranquilo e perguntei o que poderia ser feito”, contou.

A partir desse momento, Alexandre fez a biópsia, por onde teve a confirmação do diagnóstico para  o carcinoma ductal infiltrante e depois iniciou uma série de exames antes de passar pela cirurgia. O câncer já estava na mama direita há cerca de três meses, mas ainda era pequeno. A cirurgia foi conduzida pela mastologista Cláudia Nóbrega e tudo transcorreu normalmente, em meio a uma situação incomum. A médica estava de férias na Europa, mas pegou um voo para o Recife para realizar o procedimento, que durou cerca de 9 horas. À essa atitude e aos cuidados ao longo do processo, Alexandre se diz eternamente grato.

A mastologista, do outro lado, retribuiu a gratidão. “Alexandre é uma pessoa muito cativante. Eu tento fazer o melhor que posso por cada pessoa que cruza o meu caminho. Estava na primeira semana de férias e disse que daria um jeito de operar. É uma relação de médico e paciente. Não é fácil dar esse tipo de notícia (do diagnóstico), é preciso ter uma percepção e empatia pela pessoa que está na sua frente”, explicou Cláudia.

Depois da cirurgia, o paciente deu início ao tratamento. Passou por 15 sessões de quimioterapia vermelha e 17 sessões de quimioterapia branca, além de 35 sessões de radioterapia. “Eu disse para minha doença: quem vai ganhar essa parada sou eu. O importante, primeiro, é ter fé. Segundo, confiança na equipe médica e no que ela está fazendo por você; ter determinação. A gente nunca acredita que pode acontecer com a gente, mas eu levei a doença na esportiva, não deixei ela tomar conta da minha cabeça. Coloquei na cabeça que ela era fraca e que eu estava pronto para brigar”.

O tratamento de Alexandre durou cerca de dois anos. Ele não parou de trabalhar, seguiu a dieta de forma rigorosa, sempre com o apoio da esposa, a boleira Ana Lúcia, e não precisou de internamento. As visitas ao hospital aconteciam somente a cada 21 dias, para cumprir as etapas da quimioterapia.

Hoje com 53 anos, e curado da doença, Alexandre cumpre um papel de extrema importância. “Muita gente acha que o diagnóstico é uma sentença de morte. Mas não é. Tenho dado palestras para o pessoal abrir os olhos. Se sentir alguma coisa diferente, não é vergonha chegar para o médico e dizer que precisa de uma mamografia. As pessoas têm preconceito com isso, mas quando eu conto minha história ficam em alerta. É preciso ter cuidado não somente no Outubro Rosa, mas durante o ano todo.”