DP+SAúDE » TOD vai muito além de uma birra Transtorno Opositivo Desafiador demora a ser diagnosticado pois alguns sintomas são parecidos com comportamentos esperados nas crianças

Publicação: 04/12/2023 03:00

Não é difícil encontrar pais reclamando que os filhos estão cada vez mais desobedientes, respondões, irritados e até mesmo agressivos. É comum ouvir também que as crianças não conseguem se concentrar nas lições de casa, discutem e perdem a paciência com frequência. No entanto, nem todas essas atitudes são simples “birras”. Algumas crianças podem sofrer do chamado Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).

Como se trata de um transtorno psiquiátrico que reúne uma série de fatores muito parecidos com comportamentos e emoções que qualquer criança ou adolescente pode apresentar em alguma fase da vida, os pais podem levar muito tempo até levantar essa hipótese. Até mesmo profissionais especializados podem demorar para fechar o diagnóstico, o que pode retardar o início do tratamento adequado e eficaz.

Por outro lado, os especialistas ouvidos pela Agência Einstein explicam que é necessário pontuar que nem toda criança que demonstra falas e atitudes desafiadoras apresenta necessariamente algum transtorno. Muitas estão apenas respondendo aos estímulos (ou à falta deles), uma vez que a construção da criança enquanto indivíduo está diretamente relacionada com o ambiente que vive. Por isso, a identificação ou não de algum transtorno deve ser realizada seguindo a orientação de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde.

Os estudos científicos indicam uma prevalência em torno de 1% a 12% nas crianças entre cinco e dez anos de idade com TOD, sendo mais comum em meninos.

“Quanto mais jovens forem tratados corretamente, melhor será o prognóstico em relação ao controle dos sintomas”, ressalta o médico psiquiatra e psicoterapeuta Gabriel Okuda, que atua nos hospitais Israelita Albert Einstein, no Alemão Oswaldo Cruz e no São Camilo.

A psicopedagoga Gisele Lino Wandermur, mãe de Erick, de 16 anos, conta que o filho começou a apresentar os sintomas por volta dos seis anos, mas que foi diagnosticado com TOD somente aos 11. Ela recorda que os sintomas associados ao TOD causaram muitos problemas na escola. “A convivência com colegas e professores passou a ser algo muito desafiador e a equipe pedagógica da escola não conseguia ajudá-lo. Como os problemas de convivência não diminuíram, recebi o convite de retirá-lo do colégio. Daí comecei a procurar ajuda profissional”, recorda a mãe de Erick.

“Quando uma criança apresenta uma birra, desafiando a nossa autoridade, temos a tendência de banalizar e achar que é apenas uma fase. Birra e TOD são completamente diferentes. É necessário analisar esse comportamento por três parâmetros: a frequência, a persistência e os prejuízos envolvidos”.

Segundo a psicopedagoga, a frequência mínima para considerar esse comportamento em crianças acima de cinco anos é de uma vez por semana por, pelo menos, seis meses. Já para crianças menores de cinco anos, a frequência mínima é superior à metade dos dias da semana, de forma persistente, também por mais de seis meses. (Agência Einstein)