Márcio Cotrim
Publicação: 05/05/2014 03:00
Ter costas quentes
Essa expressão, muito conhecida, se refere a alguém que, por diversas razões, está bem protegido, como na seguinte frase: “meu primo vive aprontando, só não foi preso porque tem as costas quentes”.
Ter as costas quentes é colocar-se sob proteção de pessoa influente, capaz de contatos que não apenas possam impedir a punição de alguém como servir de pistolão para emprego, colocação ou vantagem.
Costas tem seu berço no latim costa, que tanto significava região dorsal como costela, tanto que o brasão de algumas famílias Costa exibe costelas humanas desenhadas. Já que possuímos várias costelas, a palavra acabou aplicando-se no plural para dorso.
Mas ninguém teve tantas costas quentes quanto a parentada do Ministro José Linhares, aquele que, em 1945 com a deposição do presidente Getúlio Vargas, assumiu provisoriamente o comando do país.
Nunca se viu tamanho nepotismo. Nomeou toda a parentada para empregos públicos, ninguém ficou de fora. O exagero chegou ao ponto de o Diário Oficial convocar pessoas para ocupar cargos públicos por indicação de Linhares!
O Brasil, perplexo, se esbaldava: “Não são Linhares, são milhares”...
Aríete
Antigo artefato utilizado em guerras para derrubar muralhas, portões de castelos, fortalezas e povoações fortificadas. Era um forte tronco ou árvore de madeira resistente, em geral com uma testa de ferro ou de bronze que frequentemente possuía, em sua extremidade, a forma da cabeça de um carneiro, cujo berço vem do latim aries, carneiro, um dos doze símbolos do Zodíaco. Os assírios empregavam-no com muita perícia e Alexandre, o Grande, usou-o bastante durante suas quase inumeráveis conquistas, que o transformaram no maior guerreiro da Antiguidade, verdadeiro terror para os adversários. Xô, Alexandre. . .
Rococó
Principal estilo de época no século 18 europeu, o rococó se desenvolveu como uma sutilização à complexidade formal e aos excessos do barroco, apelando para a leveza, a graça e os coloridos suaves. O berço dessa palavra vem do francês rocaille, rocália, tipo comum de decoração de jardins com conchas e rochas. Os traços mais salientes do estilo rococó se relacionam ao uso das rocailles, que se combinam aos arabescos com linhas curvas em C ou S. A alegria da vida cotidiana, além da frivolidade elegante da sociedade cortesã francesa daquele tempo rondam também a pintura rococó. No Brasil, observa-se forte penetração do rococó na arquitetura religiosa desde meados do século 18 no Rio de Janeiro e em diversas cidades mineiras como Ouro Preto, São João Del Rey, Congonhas do Campo, e também em Pernambuco, Paraíba e em Belém do Pará. Caracterizado por sua índole aristocrática, manifesta-se em delicadeza, elegância e graça e na preferência por temas leves e sentimentais. Em outras palavras, um estilo em que a suavidade da forma sobrepuja o rigor, receita que alcança as fimbrias do coração – o suficiente para emocionar as almas mais sensíveis. . .
Comenda
Benefício que antigamente era concedido a eclesiásticos e a cavaleiros de ordens militares designando distinção puramente honorífica. No passado, podia remeter ainda a uma porção de terra doada oficialmente como recompensa por serviços prestados. O berço da palavra vem do latim medieval commenda, dar em confiança. O detentor de uma comenda é chamado de comendador. O mais hilariante comendador da literatura portuguesa é o Conselheiro Acácio, figura de Eça de Queiroz em “O Primo Basílio”, modelo que reúne deslavada bajulação a El rey – basta dizer que, quando se referia ao soberano do país, sempre lhe fazia gentil reverência. . .