A lenda de um fenômeno Novo longa-metragem d'Os Cavaleiros do Zodíaco chega aos cinemas para comemorar os 20 anos de exibição do anime no Brasil

Diogo Carvalho
Luiza Maia
edviver.pe@dabr.com.br

Publicação: 10/09/2014 03:00

 (FATIMA GIGLIOTTI/DIAMOND FILMS BRASIL)

Alguns dos maiores sucessos do universo pop surgem, às vezes, sem o menor planejamento ou expectativa em torno deles. Foi o caso da febre d’Os Cavaleiros do Zodíaco no Brasil, animação responsável por abrir as portas do mercado brasileiro para as produções japonesas. Há exatos 20 anos, a extinta Rede Manchete amargava uma crise de audiência, quando Eduardo Miranda, então chefe de cinema da emissora, foi chamado para uma reunião com representantes da distribuidora de brinquedos Samtoy.

A proposta era a seguinte: eles forneceriam 52 episódios de um anime baseado nos mangás de Masami Kurumada lançados nos anos 1980 no Japão e que estava estourando na Europa. Em contrapartida, o canal cederia espaço para exibição de propagandas dos bonecos relacionados à série. A empresa já tinha tentado um acordo com outros canais – como a Globo e o SBT – e a Manchete era a última esperança na TV.

Miranda assistiu aos 15 minutos de um trailer promocional da atração. “O vídeo tinha sangue, violência, autoflagelação, cara furando os olhos. Eu não podia colocar aquilo num bloco de programação infantil”, contou a fãs num encontro de cultura japonesa em São Paulo. Dias depois, pressionado pelo departamento comercial, topou conferir cinco capítulos e acabou com opinião diferente. Com o parecer positivo, Os Cavaleiros do Zodíaco foi ao ar em 1º de setembro de 1994.

Mas ninguém – nem a Manchete, nem a Samtoy – estava preparado para o sucesso que os guerreiros defensores da deusa Athena teriam no país. A audiência do canal cresceu consideravelmente, com picos de 15 pontos no Ibope, como aconteceu no desfecho da saga do Santuário, que deixou a emissora na liderança do horário. “O Brasil estava carente de um desenho sequencial, como uma novela, em que um episódio dependia do outro e prendia o fã. Como sucesso, as empresas entenderam que havia mercado para isso e investiu alto”, analisa Eduardo Vilarinho, do site CavZodíaco.

Nas lojas, a empresa de brinquedos esperava vender 90 mil unidades do primeiro lote de bonecos com armaduras e acabou com 400 mil.

A Manchete já era conhecida por exibir séries de heróis japoneses, como Jaspion, Jiban, Jiraya e Changeman, mas nada secomparou ao fenômeno do cavaleiro de Pégasus e companheiros. Os mangás, revistas, álbuns de figurinhas e até o disco com a trilha sonora vendiam feito água. A dupla infantil Larissa e William, que cantava o tema principal, alcançou programas de outros canais, como o Xuxa Hits, da Globo. Foi a deixa que o mercado dos desenhos japoneses precisava para invadir a TV brasileira.

A Manchete investiu ainda em Yu Yu Hakusho, Sailor Moon, Shurato, Samurai Warriors e Supercampeões, o SBT apostou em Dragon Ball e Guerreiras mágicas, a Globo, em Sakura Card Captors e Digimon, e a Record ficou com os monstrinhos de Pokémon, sucesso mundial até hoje. Na TV fechada, culminaram Naturo e One piece.

No cinema

Em celebração ao aniversário de 20 anos do início da exibição do anime no Brasil e os 40 anos de carreira do mestre Masami Kurumada, estreia amanhã nos cinemas nacionais Os cavaleiros do zodíaco: A lenda do Santuário, terceiro longa da franquia a ser lançado nos cinemas e o primeiro produzido com animação 2D digital. Ao invés de dar sequência à saga, a Toei Animation resolveu fazer um reboot da série, que agrada tanto aos fãs saudosistas quanto ao público mais novo, que não cresceu assistindo às aventuras de Seiya e seus amigos. A parte mais legal é que a dublagem é feita toda pelo time original, que trabalhou no desenho dos anos 1990.

O filme apresenta um apanhado do melhor da saga do Santuário (a mais querida dos fãs, composta por 73 episódios) em resumidos 90 minutos, com destaque para a Batalha das 12 casas. A história é basicamente a mesma da série: o Mestre do Santuário ordena que os cavaleiros de ouro matem o “traidor” Aiolos, cavaleiro de Sagitário, que protegia um bebê que seria a reencarnação da deusa Athena. O guerreiro consegue entregar a criança aos cuidados de um milionário japonês, que reúne um grupo de órfãos – Seiya, Shun, Hyioga, Shiryu e Ikki – que se tornam os defensores da jovem Saori Kiddo, cada um com uma constelação protetora.

Números

113 episódios
tem a série original, dividida nas sagas Santuário, Asgard e Poseidon

31 episódios
da saga de Hades (Santuário, Inferno e Elíseos), lançados em 2002 no Japão

6 filmes
da animação

3 longas
no cinema: A lenda dos defensores de Atena, Prólogo do Céu e A lenda do Santuário, que estreará amanhã

700 mil
unidades de CDs da trilha sonora vendidos em 1995 no país

1 milhão
de bonecos vendidos no Dia das Crianças e Natal de 1995 no Brasil

Produtos

Atualmente, a série Os Cavaleiros do Zodíaco pode ser vista no Netflix, além de sites piratas. A série Ômega também está fora das grades de TV. Kurumada dá continuidade à saga em Next dimension, mangá com apenas nove edições desde 2006. Paralelamente, outros artistas também lançam histórias oficiais. Os bonecos colecionáveis custam entre R$ 250 e R$ 400.