Convenção de fantasmas Evento gratuito no Recife discute, de hoje a sexta-feira, o fenômeno da literatura fantástica, cujas raízes estão na Antiguidade

Fellipe Torres
fellipetorres.pe@dabr.com.br

Publicação: 03/12/2014 03:00

A lenda do cavaleiro sem cabeça serviu de inspiração para obras como o filme de Tim Burton, de 1999  (Paramount/divulgação)
A lenda do cavaleiro sem cabeça serviu de inspiração para obras como o filme de Tim Burton, de 1999

Para aprender a respeito de períodos históricos ou de sociedades específicas, um bom começo é observar quais fantasmas ou demônios as assombram. Diante do transcendental ou sobrenatural, ficam claros os medos, terrores, anseios e desejos de um povo. Como acontece com todo fenômeno universal, a questão é pontuada pela literatura de todas as épocas, de Homero a Stephen King, passando por Machado de Assis e Clarice Lispector. Essa riqueza contida na produção ficcional será explorada em cerca de 60 palestras, de hoje a sexta-feira, no 4º Congresso de Literatura Fantástica de Pernambuco (Clif-PE).

A vasta programação analisa a presença fantasmagórica em obras brasileiras, africanas, hispânicas, no teatro, no cinema, além de relacionar o tema com a morte e o humor. Da produção pernambucana, entram em análise o terror de A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, assim como as obras de Hermilo Borba Filho e Ulysses Sampaio. Hoje, às 9h30, o parapsicólogo Valter Rosa Borges fala sobre como a ciência enxerga aparições sobrenaturais e o escritor Bráulio Tavares revisa como os fantasmas marcam a literatura. O autor paraibano aproveita para lançar o livro Sete monstros brasileiros (Casa da Palavra, R$ 34,90).

Promovido pelo departamento de letras da Universidade Federal de Pernambuco, o encontro faz parte de um movimento de valorização da chamada literatura imaginativa, gênero com pouca tradição no Brasil. Segundo o curador do Clif-PE, o professor André de Sena, centros de pesquisa de todo o país passaram a se preocupar em estudar o fantástico na literatura, inclusive a figura do fantasma, existente desde as narrativas orais da antiguidade. “Ela está na literatura épica grega, na gótica do século 18 (com um fantasma ligado ao medo coletivo, a um horror externo), na idade média (associado à tradição cristã), no romantismo do século 19 (mais internalizado, na psique), e até hoje, nas novas mídias e tecnologias”. Confira a programação completa no diariode.pe/j49.

Serviço

4º Congresso de Literatura Fantástica de Pernambuco
Quando: de hoje a sexta-feira
Onde: Centro de Educação e Centro de Artes e Comunicação – UFPE – Avenida Professor Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária
Quanto: Gratuito

Linha do tempo

Confira obras e autores que estão na programação do 4º Clif-PE

29 a.C

Estreia literária do poeta romano Sexto Propércio, que recorria a lendas e a figuras mitológicas, como Anfião, rei de Tebas. A história conta que o nobre construiu uma fortificação em torno da cidade e, quando tocava sua lira, fazia com que as pedras se movessem em direção à muralha.

1623
Em Macbeth, do dramaturgo inglês Wiliam Shakespeare, o general do exército ouve profecias de bruxas. Ganancioso, ele assassina um amigo e passa a ser assombrado pelo fantasma dele. Durante um banquete, Macbeth vê a assombração tomar o seu lugar à mesa e tem um acesso de fúria.

1818
A escritora britânica Mary Shelley publica Frankenstein, considerada a primeira obra de ficção científica da história. O romance conta a história de Victor Frankenstein, estudante de ciências naturais que constrói um monstro no próprio laboratório.

1820
Publicação de A lenda do cavaleiro sem cabeça, conto do norte-americano Washington Irving, que inspirou o filme homônimo, de 1999. Narra o pavor de um jovem perseguido pelo fantasma de um guerreiro alemão que havia sido decapitado ao ser atingido por uma bala de canhão. A lenda diz que o homem cavalga pelas ruas em busca da própria cabeça.

1891
Oscar Wilde publica O fantasma de Canterville, novela em que narra história de uma família norte-americana que se muda para uma mansão assombrada pelo fantasma de sir Simon Canterville por mais de 300 anos.

1949
O romance fantástico Margarida La Rocque: A ilha dos demônios, da escritora Diná Silveira de Queirós, relata a saga de uma personagem para sobreviver em uma ilha deserta habitada por espíritos e duendes.

1974
No conto O pirotécnico Zacarias, Murilo Rubião narra a história de um homem que continua vivendo após ter morrido. A figura do defunto-narrador repete o que fez Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas (1880), considerada a primeira narrativa fantástica brasileira.

1986
O escritor moçambicano Mia Couto lança Vozes anoitecidas. Em várias histórias, flerta com o mágico e com o absurdo, como no conto As baleias de Quissico, em que o protagonista espera a chegada de um animal marinho de cuja boca, acredita, brotará “amendoim, carne, azeite de oliva e bacalhau”.

1996
Ano de publicação do primeiro volume de As crônicas de gelo e fogo, do norte-americano George R. R. Martin, que inspirou a série Game of thrones. A história é repleta de fantasmas, conhecidos como “caminhantes brancos”, descritos como espécie de demônios.

2002
Um dos contos do livro Tudo é eventual, do escritor Stephen King, narra fenômenos sobrenaturais que ocorrem em um quarto de hotel, o que atrai um escritor especialista em casos paranormais. Ao se hospedar no local, ele passa por experiências assustadoras. O conto inspirou o filme 1408, de 2007.