Larissa Lins
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Publicação: 05/02/2015 03:00
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Pulseiras de prata, colares com as iniciais do próprio nome, óculos de sol espelhados, tatuagens, dentes de ouro, cabelos descoloridos, camisas estampadas, força braçal… o que caracteriza um cafuçu? “É um homem rústico, másculo, sem frescura”, explica Luisa Accetti, uma das fundadoras do bloco carnavalesco que deu origem à prévia I love cafusú. Ela conta que quando desfilou com as amigos pelas ladeiras de Olinda, há 11 anos, e exibiu pela primeira vez o estandarte em homenagem aos cafuçus, queria passar a mensagem de que eles eram o modelo de homem ideal. Para ela, os cafuçus se encaixam no padrão lumbersexual (derivado da expressão lumberjack, que significa “lenhador” em inglês), cujo estilo é semelhante ao personagem Wolverine, da Marvel: em síntese, um “machão” sexy. O grosseirão que sabe ser romântico na hora certa.
Desde então, o bloco fundado por Luisa Accetti, Chris Garrido e Bruno Duzi ganhou novas proporções - atualmente, se instala como baile de gala no Clube Internacional do Recife, sempre na semana anterior ao carnaval - e o significado da palavra que dá nome à festa também. Para comparecer a caráter, os foliões se apropriam da identidade visual de profissões “braçais” e informais ao compor o figurino. Bombeiros, frentistas, motociclistas, bicheiros, vendedores ambulantes, entregadores de água e gás… a caracterização recorre a estereótipos e os satiriza com bom humor. “Apesar de parecer que sim, a expressão não se refere a classe social, poder aquisitivo ou nível intelectual”, reforça Luisa, que acredita que todos os pernambucanos são, no fundo, cafuçus. Para ela, trata-se do estado de espírito comum a todos os homens com pouca vaidade e nenhuma frivolidade. Brega e pagode seriam os hinos desse way of life.
As chamadas rariús, cuja denominação surgiu mais tarde, são os pares dos cafuçus. Sensuais, ousadas, extravagantes, amam decotes e estampas em animal print. A expressão rariú deriva da pergunta em língua inglesa “how are you?” (como vai você?), treinada pelas brasileiras que tentavam se comunicar com estrangeiros. “A tia de uma amiga comentou que as meninas estavam tendo aulas para praticar a expressão”, conta Luisa Accetti, explicando a origem do termo que designa mulheres que amam os cafuçus lambersexuais. Juntos, eles formam o par perfeito.
Opiniôes
Para entender o significado dos neologismos cafuçu e rariú entre populares do Recife, o Viver foi às ruas e conversou com alguns dos trabalhadores que servem de inspiração às fantasias da festa. Nenhum deles conhecia os termos, mas todos falaram à reportagem sobre as semelhanças que veem entre si mesmos e o conceito relacionado a essas expressões. Confira:
"Se precisar, sou invocado mesmo. Nunca ouvi a expressão cafuçu, mas se tem a ver com ser marrento, sem frescura, então esse sou eu. Não gosto de tatuagens reais, mas uso essas mangas compridas que imitam tatuagens para me proteger do sol com estilo. Isso é importante, mas não me visto feito maluco, com bermudões e camisas exageradas. Não vivo sem brega, sertanejo e pagode. Só ando cheiroso. Meu estilo é informal.”
Gleison Cunha, comerciante e guardador de carros
"Não conhecemos essa expressão, mas gostamos de ouvir brega e andar na moda, estilosas, com vestidos e shorts curtos, blusas decotadas, estampas e maquiagem ‘3D’. Nos nossos celulares não podem faltar as últimas músicas da Musa e Banda Sedutora. Meu namorado usa correntes de prata, não tem frescura, nem vaidade. Homem tem que ser assim. Se cafuçu for isso, tem que ser cafuçu.”
Gerlaine Cristina e Aline Félix, atendentes
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Flávio Andrade, comerciante
"Só ouço rap, sou fã dos Racionais MC’s. Não tenho frescura nenhuma, com nada. Trabalho como operador de serviços gerais no comércio informal, gosto de andar nas ruas, vivo com o povo. Sou vaidoso porque uso correntes no pescoço, pulseiras, acessórios. Não perco nenhum show de brega na cidade. Não conheço a palavra cafuçu, mas sou homem do tipo marrento, com estilo próprio. Deve ser esse o significado.”
Edmilson Antônio, operador de serviços gerais
"Não vivo sem brega, sou fã da banda Sedutora. Sou um cara vaidoso. Toda semana preciso descolorir novamente o cabelo e refazer o corte a cada vinte dias. Não conheço a expressão cafuçu, nem a prévia, mas amo carnaval. Acredito que cafuçu seja o homem simples, masculino, sem frescura, divertido. Eu sou assim.”
Gleison Douglas, estudante
"Ouço de tudo um pouco: frevo, forró, brega, MPB. Não acompanho moda, luxo. Não ligo. Eu mesmo corto meu cabelo, em casa. Faço as unhas sempre, considero parte da higiene pessoal. Mas não sou vaidoso, não tenho frescura alguma. Meu ideal de beleza é a atriz Juliana Paes. Desconheço esse termo cafuçu. Sou um homem sem vaidade.”
Josué Marques, frentista
"Trabalho como entregador de água e atendente no comércio. Gosto de andar na moda, sim, bem vestido. Mas dispenso essa coisa de pulseiras, colares. Isso é demais. Estou sempre ouvindo brega. Sou fã da banda Musa e a vocalista é meu ideal de beleza numa mulher. Não sei o que significa cafuçu. Nunca ouvi falar.”
Manuel Nascimento Jr., entregador de água