O mais brasileiro dos gêneros Em 150 crônicas, Meraldo Zisman mescla informação e emoção para versar sobre temas como desigualdades sociais, política e amor

Publicação: 19/07/2016 03:00

Escritor reuniu dez anos de textos publicados no Diario (Alcione Ferreira/DP)
Escritor reuniu dez anos de textos publicados no Diario
A crônica sempre esteve próxima do jornalismo, tanto pelo conteúdo, habitualmente relacionado a questões do dia a dia, quanto pela tradição de ser publicada em jornais. Representante do gênero, o médico e escritor Meraldo Zisman veiculou diversos de seus textos no Diario e reúne dez anos de produção no livro Cotidiano em movimento (Edição do autor, 310 páginas, R$ 50). A coletânea será lançada na quinta-feira, às 19h30, na Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa 1559). O acesso é gratuito.

O 13º livro da carreira de Zisman é prefaciado pelo jornalista e presidente do Rotary Club do Recife, Joezil Barros, e traz quase 150 textos escritos entre 2005 e 2015. Mesmo entre as crônicas com maior tempo de publicação, percebe-se atemporalidade em quase todas elas. “A crônica é o que fica dos jornais de ontem”, opina o autor, destacando que enquanto algumas notícias podem ficar datadas, as crônicas costumam ter maior sobrevida.

Zisman tem desenvolvido o olhar para questões da sociedade desde o primeiro livro publicado, Nordeste pigmeu: uma geração ameaçada (1987), que discute o problema secular da fome na região. E a crônica foi um meio escolhido pelo autor para continuar colocando no papel observações e impressões sobre o mundo.

“É a mescla da informação com a emoção, do mundo objetivo, público, com o mundo privado ou o íntimo”, define, acrescentando que considera o formato como o mais brasileiro dos gêneros. Desigualdades sociais, política, infância, violência, mídia, amor e velhice são alguns dos temas abordados, questões que nunca deixarão de ser atuais.

A profissão não fica de fora da obra e é também ponto central de alguns dos textos de Meraldo Zisman, que é psicoterapeuta e professor titular de pediatria da Universidade de Pernambuco. Assuntos delicados, como pedofilia, bullying e microcefalia, são abordados sob o crivo literário e também pelo viés da medicina.

Nascido no Recife nos anos 1930, Meraldo diz buscar, a partir da crônica, um diálogo entre gerações. “Não existe isso de ‘no meu tempo era melhor’. Estamos todos vivos, nosso tempo é agora”, diz. “Um dos grandes conflitos intergeracionais é que nosso aprendizado veio acompanhado do vídeo, do rádio e da tevê. Agora, os jovens estão aprendendo com a informática”, afirma o autor, ressaltando que o maior contato com os meios digitais modificou a comunicação entre as pessoas, mas não a eliminou. “Nós, que somos mais velhos, devemos buscar esse diálogo”, pontua.

“Em vez de lamentos, seria mais construtivo se tivéssemos esperança e um cuidado maior ao votar, pois aí está a oportunidade de se melhorar o status”, Todo político é corrupto? trecho de crônica publicada em 2010