Clima romântico e frio no Agreste O renomado pianista filipino Victor Assuncion se apresenta hoje no Festival Virtuosi e na próxima semana no Festival de Inverno de Garanhuns

Publicação: 20/07/2018 03:00

O pianista filipino Victor Assuncion desembarca hoje em Pernambuco para duas apresentações no Agreste do estado. Conhecido pelo seu toque equilibrado e imaginativo, o músico é um dos destaques da temporada de Gravatá do Festival Virtuosi e do 28º Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), respectivamente. A primeira apresentação será nesta noite, a partir das 19h, na Igreja Matriz de Sant’Ana, em Gravatá, ao lado do contratenor pernambucano João Paulo Ferrreira. Na ocasião, será apresentada uma peça que homenageia os Castrati, cantores de ópera que conseguiam alcançar tons de voz normalmente femininos.

Já na próxima quarta-feira, Victor apresenta uma peça exclusiva para o Virtuosi na Serra, que ocorre na Catedral de Santo Antônio, dentro da programação de shows do FIG, que, neste ano, celebra a liberdade. Os concertos serão gratuitos.

Elogiado pelo jornal norte-americano The Washington Post, Victor Assuncion já foi destaque em salas de concerto no Brasil, Canadá, Equador, França, Itália, Alemanha, Japão, México, Filipinas, Espanha, Turquia e Estados Unidos e tem na bagagem parcerias com artistas renomados da música clássica. O filipino já se apresentou ao lado de Lynn Harrell, Zuill Bailey, Andres Diaz, Antonio Meneses, Joshua Roman e Cho-Liang Lin.

Entrevista - Victor Assuncion  //  pianista

Como você descobriu a paixão pelo piano?

Foi quando meu pai, que trabalhava na Arábia Saudita como engenheiro químico, comprou um piano para a minha irmã. Eu não tinha permissão para tocar, porque pertencia a ela e meu pai não achava que fosse uma coisa viril fazer. Então, assisti e escutei os treinos da minha irmã e, quando meu pai não estava por perto, comecei a copiar o que ela estava fazendo e tocando. Minha mãe me permitiu ter aulas e, depois de 8 a 9 meses tocando, meu professor me inscreveu em uma competição de pianos por toda a cidade e surpreendentemente cheguei em 2º lugar. Na mesma época, fui descoberto por um professor de música na escola primária que me levou para conhecer o diretor de uma outra escola de artes. Eu fiz o teste e fui convidado para ir à escola. Aceitei prontamente porque era de graça e uma chance de fugir da minha família e, assim, tocar piano o quanto eu quisesse. Aos 14 anos, meu pai perdeu o emprego e minha família mergulhou em dificuldades. Comecei a ensinar crianças mais novas e a dar aos meus pais tudo o que eu ganhava. Aos 16 anos, descobri que podia sustentar a casa tocando piano, vencendo competições e tocando para outras pessoas.

Você enfrentou algum desafio por ser um pianista filipino nos Estados Unidos?
Ao contrário de outros asiáticos, os filipinos são muito sub-representados como músicos clássicos nos EUA. Posso contar com uma mão os filipinos que se tornaram bem conhecidos. Uma das coisas mais difíceis que encontrei foi a falta de fundos. Eu não tinha apoio financeiro do meu país quando fui estudar nos Estados Unidos e tive que contar com bolsas de estudos, trabalhos, shows, acompanhamentos e a gentileza de estranhos. Conheci alguns filipinos realmente maravilhosos que se mobilizaram para me ajudar a conseguir o capital necessário para terminar os meus estudos. Esta é a razão pela qual eu comecei minha própria fundação, a FilAm (abreviação de Filipino-Americana) Music Foundation. Tive muita sorte em conhecer essas pessoas e gostaria de ajudar outros músicos que possam estar no mesmo barco em que eu estou há 25 anos.

Quais são os compositores que te inspiram?

Eu estou atualmente em uma fase de Maurice Ravel. Sua produção musical não é enorme, mas cada música que ele escreveu era a perfeição absoluta. Elas também são tecnicamente e musicalmente difíceis. Eu sempre adoro um desafio e sua música definitivamente é uma que estou preparado para enfrentar.

Você pode falar sobre o público daqui e como eles diferem de outros países?
O que eu sei sobre os brasileiros é que eles são apaixonados por mostrar seu amor pelo que os músicos fazem. Eu acho que sou uma pessoa muito honesta e talvez transmita isso através da minha música. Acho que eles sentem isso. Eu nunca dou menos que 110%. Sinto que o público sabe disso e aprecia muito.