DIARIO NOS BAIRROS » Resistência artística no Espinheiro Com quase 10 anos de existência, a Mau Mau funciona como um espaço de convergência artística em meio aos arranha-céus do bairro

Emannuel Bento
emannuelbento@gmail.com

Publicação: 20/07/2018 03:00

Cercada de árvores, a casa de número 178 da Rua Nicarágua, no Espinheiro, aparece como um oásis cultural em um bairro que passa por um processo de verticalização e tem agregado cada vez mais pontos comerciais. É nesse imóvel, construído em 1938, que funciona o coletivo Mau Mau, um espaço de convergência artística que inclui eventos culturais, exposições, oficinas, ateliês, residências temporárias para artistas e espaços livres voltados para a arte.

O coletivo surgiu em 2009, idealizado pela artista Irma Brown e Fernando Perez (que deixou o local para abrir o Lesbian Bar, na Boa Vista). “A casa sempre foi da minha família, fizemos uma negociação e conseguimos o local por um preço mais acessível. A ideia sempre foi agregar vários artistas e linguagens. Começou com foco em artes plásticas, mas hoje contém atividades voltadas para o corpo, como teatro e dança”, explica Brown, que comanda a casa ao lado de Lia Letícia. O ilustrador Hke Koblitz e as produtoras Clarice Hoffmann e Daniela Azevedo são alguns dos nomes que completam o time.

Atualmente, o local é dividido por diversos espaços: uma galeria para exposições e exibições audiovisuais, a Sala Monstra, que serve para realizar atividades ligadas a expressões com teatro e dança, outra sala para oficinas, além de uma cozinha coletiva - que também funciona como um bar quando o local recebe eventos. Na área externa, existe um jardim e varandas cobertas por mangueiras.

Com quase dez anos de existência, a Mau Mau tem sobrevivido através do aluguel compartilhado dos artistas, projetos em editais e, principalmente, de parcerias com artistas independentes e eventos colaborativos. “Alugamos o espaço para eventos, como lançamento de livros, além de receber propostas de artistas pernambucanos e de vários lugares do país. Avaliamos se as propostas combinam com nosso estilo e tentamos encaixar na agenda”, explica Lia Letícia.

As propostas podem ser feitas pelo site do coletivo (www.maumaugaleria.com). A quantidade de interessados tem surpreendido. Hoje, o local chama atenção de uma geração de artistas que não tem encontrado locais para mostrar seus trabalhos. Irma e Lia ressaltam, no entanto, que a falta de verba tem dificultado o trabalho. “Acabamos nos tornando um local de resistência, pois é uma luta diária conseguir pagar o espaço e os artistas, mas temos conseguido sobreviver com alguns projetos, muitas vezes sem financiamento e totalmente colaborativos, desde a limpeza até a venda de produtos no bar”, conta Lia.

Irma Brown ainda desmembra o esforço que o coletivo tem tido para conseguir se popularizar no Espinheiro e nos entornos, a exemplo da utilização de panfletos e banners. “Muitos passam pela frente, mas não entram, porque a construção ainda é vista como uma casa, não como um espaço de artes, não existe uma pegada comercial”, diz Irma. “As pessoas ainda estão começando a entender o que somos, mas queremos fixar essa resistência com atividades abertas ao público. Queremos ser esse oásis cultural em um cotidiano tão claustrofóbico que temos hoje em dia”, complementa Lia.

Programação

TEATRO

De agosto a dezembro, o local oferecerá o Tangolomango, um curso de teatro para crianças a partir de 6 anos. Serão duas turmas, com encontros nas sextas-feiras, das 14h às 17h. Ainda haverá o curso Teatralismo Poético (para adultos), também nas sextas, das 19h às 22h. Ambos serão ministrados por Gabi Cabral e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail: gabicabral@gmail.com.

EXPOSIÇÃO

Atualmente, a casa está de portas abertas para a exposição Franqueza, do artista plástico Caetano Costa. A visitação será até 4 de agosto e serão realizadas performances todas as quintas e sábado, às 19h.

MÚSICA

Outra atividade é a oficina de percussão Silêncio e Som - Vivência, iniciação e sensibilização musical com Negro Grilo, realizada nas quartas, das 19h às 20h. Informações: grilo.negrogrilo@gmail.com.

OUTROS PROJETOS

O Mau Mau ainda congrega o projeto Gráfica Lenta, com foco em produção de gravuras, e o Bicicleteria Mapuche, que oferece assistência técnica em bicicletas e prega o cicloativismo no meio urbano.