Suingue de João fez a diferença

Publicação: 11/07/2018 03:00

“João Gilberto foi da maior importância para a bossa nova. Nós estávamos começando a fazer nossas músicas e ainda não existia o termo ‘bossa nova’ quando o conheci. O suingue que ele tirava do violão era o que estávamos procurando. Na época, eu tinha uma batida de violão, Carlinhos Lyra tinha outra, assim como o Oscar Castro Neves. Mas a batida do João veio para definir o que a gente queria”, lembra o compositor, arranjador e violonista Roberto Menescal.

Ele acrescenta: “Em 1958, João havia gravado Canção do amor demais, o disco da Elizeth Cardoso, acompanhando-a ao violão em Chega de saudade e Outra vez, de Tom e Vinicius. Mas a bossa nova estourou, numa velocidade impressionante após a gravação de João tocando e cantando justamente Chega de saudade. Não sabíamos qual seria a durabilidade do movimento, e já estamos aí, celebrando 60 anos, compondo novas músicas, gravando discos e fazendo muitos shows. Viva a bossa nova!”

Bossanovista de primeira hora, Carlos Lyra conta que a batida do violão de João Gilberto já era conhecida por ele, Menescal, João Donato e Tom Jobim. “Em reuniões de que participávamos, ouvíamos João tocando e víamos algo de diferente naquela batida. Aquilo causou um grande impacto entre as pessoas que ouviram a gravação dele para Chega de saudade. Houve quem tomou conhecimento ouvindo o compacto lançado pela Odeon, mas as pessoas foram surpreendidas mesmo quando a música começou a tocar no rádio.”

Lyra destaca também o arranjo de Tom Jobim para a canção. “Eu tinha várias músicas compostas, antes do João gravar, o que foi determinante para que surgisse o movimento, cujo nome dei ao meu primeiro LP, gravado em 1959 e lançado no ano seguinte”.

Representante da segunda geração, Marcos Valle tinha 17 anos quando ouviu Chega de saudade. “Estava numa festinha no Leblon, e aí um amigo nosso chegou pôs para tocar na vitrola. De imediato, a atenção se voltou à gravação.”

Momento difícil

Patrimônio da música popular brasileira, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, nascido em 10 de junho de 1931, em Juazeiro (BA), está sob os cuidados da filha Bebel Gilberto (do casamento com a cantora Miucha). Ela o instalou em apartamento cedido por uma amiga, depois dele ser despejado, por falta de pagamento, do flat no Leblon, Rio, onde morou durante vários anos.

(Do Correio Braziliense)