ENTREVISTA // TRIBALISTAS » "Nunca paramos de compor e fazer coisas juntos"

Publicação: 10/08/2018 09:00

O que contribuiu para levar esse projeto ao palco?

Arnaldo: A expectativa não é só do público. Era uma equação complicada e só agora que conseguimos abrir esse espaço. Tivemos tempo de preparar, ensaiar e foi uma questão de agenda em comum mesmo. O Tribalistas é uma coisa que antecede o disco. A gente nunca parou de compor e de fazer coisas juntos. Mas chegou a hora.

Marisa: O desejo sempre existiu, mas a situação circunstancial impedia. São três artistas com carreiras sólidas, que vão para além da música, com arte, poesia e televisão. Eu, Carlinhos e Arnaldo somos muito produtivos e ativos. Logo no primeiro disco, eu tinha acabado de ter neném. Mas agora a gente conseguiu criar uma situação excepcional. É um momento feliz para nós. Uma situação rara e complexa de unir as agendas. Vai ser uma temporada curta, com um show por cidade. Mas estamos desfrutando com maior prazer. A gente nunca parou.

As canções inéditas refletem a vasta referência musical do trio. Que mensagem há em comum?

Arnaldo: Não há apenas uma mensagem. Abordamos vários temas e de forma plural. A diversidade dos nossos olhares. São mensagens que estão implícitas na letra das músicas e na nossa vivência como grupo, que cria e reparte essa criatividade.

Marisa: A principal mensagem é o exemplo do nosso encontro. De respeito, do amor, da soma das diferenças que se complementam. Do que a gente pratica e que vai além das canções.

O anúncio da turnê criou um frenesi nos fãs. Como estão recebendo o carinho?

Arnaldo: Causa frenesi na gente também (risos). As pessoas cantam, batem palmas, balançam os braços juntos. É muito bonito de ver a música movendo essa energia. É realizador.

Marisa: Estar com amigos no palco, o que tem melhor que isso na vida? Ver as pessoas celebrando, se abraçando, se beijando. Traz um Brasil leve, amoroso, que a gente ama, se identifica e sente saudade. Como fala a música: somos um só. A mensagem é essa. A gente é homem e mulher, é tudo.

Cada um carrega características e referências musicais. Como é a divisão de tarefas?

Carlinhos: É dotado de energia que fortalece a química que já existia. Eu sou viciado nos Tribalistas. Nunca tivemos interesse em ser um destaque na frente do outro. A gente quer destacar a música. Nossa energia criativa não está nem aí para quem faz o quê. Sou percussionista e sempre procuro adaptar o som com as notas de Marisa. Ela tem uma leitura de palavra bonita, então uso sons de madeira, coisas que somem. É um cuidado 'Gilbertiniano' para que o grupo ecoe em conjunto. Há essa energia viciante, que faz com que a química flua e a gente respeite os limites, sem forçar nada.

Na construção da sonoridade, que caminhos decidiram trilhar?

Carlinhos: Esses arranjos foram afinados por belos pratos da cozinha brasileira nos nossos encontros em almoços, momentos na Bahia e na casa de Marisa. Da despretensão de ser alguma coisa, não somos individualizados. Nós somos fãs dos Mutantes, da Tropicália e bebemos na fonte de tudo Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho construíram. Temos uma conexão que não sei como explicar.

Desde 2002, muita coisa mudou, como as formas de fazer e consumir música e gerir a carreira. O que incluíram de novo no processo de criação?

Arnaldo: Mudou muito como se ouve, comercializa e se convive com a música. Mas dentro disso tudo, o mais importante é a arte em si. A música pode ser feita no lápis e papel ou no teclado, mas a palavra é verbalizada e o afeto presente é muito real, continua a mesma coisa.