Um capítulo de reação no mercado livreiro nacional Apesar da forte crise no setor editorial, houve aumento de 11,69% nas vendas do acumulado do ano, de janeiro a julho, em relação ao mesmo período de 2017

BRE­NO PES­SOA
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Publicação: 18/08/2018 03:00

São Paulo - Se a crise econômica que o Brasil atravessa nos últimos anos é entrave para praticamente todos os segmentos, o mercado livreiro ainda enfrenta um problema de longa data: o fato de parte expressiva da população não ter hábitos de leitura. O cenário, duplamente complicado para o setor, parece dar sinais de melhora após um período relativamente longo de quedas. Bom termômetro, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que teve a 25ª edição realizada entre os dias 3 e 13 de agosto, registrou incremento de 33% no valor médio de compras, por visitante, em relação ao evento de 2016.

“Não me lembro de uma crise tão grande como essa”, diz o presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Luís Antonio Torelli, acrescentando que, por outro lado, sente certo alento com as últimas pesquisas de mercado. O mais recente Painel das Vendas de Livros no Brasil, realizado pela Nielsen e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), por exemplo, aponta crescimento de 11,69% nas vendas do acumulado do ano, de janeiro a julho, em relação ao mesmo período de 2017. Em relação ao volume comercializado, a variação foi de 7,5%.

“É pouco, perdemos muito (em vendas) desde 2014, mas pelo menos a curva deixou de ser negativa. Pode ser que a gente comece a recuperar”, opina Torelli, observando que, nos últimos tempos, “as editoras tiveram uma queda monumental no número de edições novas”. Além da melhora nos indicadores, outro ponto comemorado pelo presidente da CBL é a recente sanção da lei que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), voltada para a universalização do direito de acesso ao livro, à leitura e à escrita.

A PNLE prevê a elaboração, a cada dez anos, do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), com metas e propostas elaboradas pelos ministérios da Cultura e Educação e representantes das respectivas secretarias estaduais e municipais, além da sociedade civil, do Conselho Nacional de Política Cultural e do Conselho Nacional de Educação. O plano deve ser elaborado nos seis primeiros meses de mandato do próximo presidente da República.

Para o presidente da CBL, uma das vantagens da política é o fato de ser um plano com validade de dez anos. “Deixa de ser um programa de governo, o que era um horror. Mudava o governo, tudo que a gente tinha feito se perdia”, comenta Torelli. Ele ressalta, porém, que “ter o leitor, mas ele não ter onde ler ou comprar o livro, é um desastre”, observando entraves como defasagem no acervo de bibliotecas públicas e escolares ou a falta desses espaços.

Outra barreira a ser superada tem a ver com o momento delicado enfrentado atualmente por diversas livrarias, que têm fechado lojas - a exemplo da unidade da Livraria Cultura no Bairro do Recife - e atrasado o repasse para editoras. A Cultura e a Saraiva, duas das maiores redes varejistas do segmento no país, representam, para muitas editoras, parte expressiva do faturamento, criando um efeito cascata.

INTERRUPÇÃO
A Bookwire/DLD, distribuidora de livros digitais, anunciou, no fim de julho, a interrupção no fornecimento do catálogo para Saraiva e Cultura, por falta de pagamento. A companhia alegou que não recebia desde o início do ano. A editora Mythos, dedicada a quadrinhos, tomou medida similar e, no início deste mês, suspendeu a distribuição de títulos para as duas redes.

“Teve uma época, uns dez anos atrás, em que o grande negócio das livrarias era o modelo das megastores”, diz Torelli, acrescentando que esse formato é difícil de ser mantido atualmente. Uma saída, sugere o presidente da CBL, seria a aposta em livrarias pequenas e focadas em nichos. “No Brasil, ainda se acha que o que vende é best-seller”, comenta, sugerindo que a segmentação é uma tendência em outros países, como na França, onde tem surgido novos estabelecimentos com títulos de gêneros ou temas específicos, como publicações infantis ou da área de direito. Nos EUA, a Associação Americana de Livrarias (ABA) também registra aumento no número de livrarias independentes nos últimos cinco anos.

Para incentivar empreendimentos do gênero, a CBL lançou, durante a Bienal, o Guia de Orientação para Livrarias Independentes, elaborado a partir de levantamentos feitos pela FEA Jr., empresa júnior da Faculdade de Economia e Administração da USP, com a participação de profissionais do mercado.

Vendas na Bienal

A Câmara Brasileira do Livro, realizadora da Bienal do Livro, esperava receber 700 mil pessoas ao longo dos dez dias de evento, no Pavilhão de Exposições do Anhembi. A feira encerrou com 663 mil visitantes, público inferior ao da edição anterior (684 mil). Apesar da queda de 3,1% na visitação, o gasto por pessoa aumentou consideravelmente, chegando a R$ 161,57. O resultado foi 33% maior do que o tíquete médio registrado em 2016. Record, V&R, Autêntica, Sextante, Melhoramentos e Leya foram algumas das editoras que registram aumento nas vendas. Com 197 expositores e 75 mil m² de área ocupada, o evento custou, segundo estimativas, R$ 32 milhões.