Um filme para jogar luz dentro dos "armários" Documentário Abrindo o armário, que estreou no cinema na última semana, discute as dificuldades dos homens gays, especialmente ao "se assumirem"

EMANNUEL BENTO
emannuelbento@gmail.com

Publicação: 20/08/2018 09:00

“Muitas pessoas falaram sobre nós. Agora chega. Eu quero falar sobre mim mesma”. Essa frase, dita pela cantora Linn da Quebrada durante o documentário Abrindo o armário, soa como síntese do próprio filme. Com direção de Dario Menezes e Luis Abramo, a película é constituída unicamente por depoimentos de gays, drags queens e pessoas não-binárias de diversas gerações, dos mais experientes aos mais jovens. A obra, cujo título brinca com a expressão usada para quando gays “se assumem”, estreou em salas de cinema de todo o Brasil na última quarta-feira, dentro de uma programação especial do Cinemark. Em breve, será exibida no Canal Brasil e na GloboNews, emissoras parceiras do projeto.

Linn é um dos 16 personagens que desabafam sobre suas vivências como LGBTI+. A montagem de Jordana Berg faz com que esses relatos, juntos, formem uma documentação relevante sobre os processos de libertação da comunidade LGBTI do Brasil, a atual situação do grupo e os desafios da luta para conquistar espaços e construir uma identidade política e social. “Sempre trabalhei com TV, mas estou migrando para a plataforma do cinema. Por isso, evitei usar locução de fundo ou imagens de arquivo. Deixei a história ser contada unicamente pelos personagens”, explica o jornalista Dario Menezes, documentarista responsável pela Luba Filmes.

O filme começa com uma homenagem ao mítico Madame Satã, personagem que viveu no Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1950. A reverência é feita pelo ator Udylê Procópio, com uma performance de dança contemporânea. A primeira parte da montagem mostra cada personagem relembrando como “se assumiu” para a família. Depois, seus relatos vão dando corpo a um discurso plural que transpassa temas como superação, violência familiar e autoaceitação.

Entre os representantes da antiga geração, estão pessoas como o diretor de cinema Fabiano Canosa, o escritor José Silvério Trevisan e o ator Bayart Tonelli, que foi integrante do transgressor grupo Dzi Croquettes, que desafiou a ditadura militar com a arte queer. Entre os personagens mais jovens, estão nomes como Gabriel “Kami” Santos, jogador profissional do game League of Legends, e o publicitário pernambucano Marlon Parente, responsável pelo documentário Bichas, que viralizou na internet com mais de 700 mil visualizações no YouTube. Em sua fala no filme, Marlon destaca como a cultura do “cabra macho” vigente no Nordeste pode ser nociva para homens homossexuais. Outra fala impactante de personagens da “nova geração” é a do jornalista Artur Francisch, que tentou se suicidar após ter sua primeira relação sexual com um homem.