DIARIO NOS BAIRROS » Ah, que saudade dos shows no Geraldão... Ginásio esportivo foi palco dos maiores momentos da música no estado entre as décadas de 1970 e 1990

MARINA SIMÕES
marina.simoes@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/09/2018 03:00

O antológico ginásio localizado na Avenida Mascarenhas de Morais, na Imbiribeira, bairro da Zona Sul do Recife, fincou-se na memória afetiva dos recifenses por várias conquistas do esporte. E, apesar de soar estranho para algumas pessoas mais jovens, também por grandes momentos da música no estado. Inaugurado em 12 de novembro de 1970, o Geraldão, como é conhecido o Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, foi palco para marcantes apresentações de artistas nacionais e internacionais e figurou no calendário cultural pernambucano como espaço de referência para shows e festivais até a década de 1990.

O equipamento era frequentemente requisitado por José Carlos Mendonça, o Pinga, um dos maiores empresários do showbiz no Brasil na época. O produtor, natural de Aracaju, aposentou-se do ramo contabilizando quase 15 mil shows em várias cidades brasileiras, com Elba Ramalho e Roberto Carlos como seus principais artistas. Um dos seus funcionários, Paulo Roberto Rodrigues de Buonafina, o Paulão, de 60 anos, relembra ter atuado na segurança de grandes bandas e artistas que se apresentaram no Geraldão, como A-Ha, Information Society, Faith no More e Rick Wakeman (lendário tecladista do Yes). O show da banda norueguesa A-Ha, em 2 de junho de 1991, foi apontado como um dos grandes acontecimentos da cidade. Os ingressos se esgotaram e cambistas chegaram a vender tíquetes falsificados, apreendidos pela produção. Dezenas de pessoas precisaram de atendimento médico por casos de histeria e embriaguez. “Era época de inverno e Pinga ficou com medo de fazer no Arruda. Por isso, escolheu o Geraldão, mesmo cobrando mais caro pelo ingresso”, relembra Paulão, que hoje é gerente de segurança e chefe de portaria do Classic Hall e celebra mais de 40 anos dedicados ao ramo do entretenimento.

“Na época das vacas gordas, todo mês a produtora realizava três ou quatro shows grandes. Trabalhei em vários no Geraldão. Quando Lulu Santos vinha, tinha que fazer dois dias. Vi Angélica e Xuxa lotarem aquele ginásio. Eram filas enormes para entrar”, relembra. Nas contas de Paulão, o espaço comportava aproximadamente 10 mil pessoas na arquibancada e mais 5 mil quando utilizava a quadra. “Nos shows românticos de Julio Iglesias e Roberto Carlos, a gente mandava forrar a quadra e colocava as mesas. Ficava mais confortável”, relembra. A Pinga Promoções Artísticas também promoveu shows de Rita Lee, Jimmy Cliff, Gilberto Gil, Raul Seixas, Fábio Jr., Xuxa, Joanna, José Augusto, Os trapalhões, entre outros.

Um evento que ficou marcado na memória do policial militar aposentado foi a turnê A discoteca do Chacrinha, em 1973, um dos primeiros sucessos de bilheteria do Geraldão. “Ele trouxe todos os convidados da televisão. Veio a turma toda, Rita Cadillac e as chacretes. Tirei até foto com Sérgio Reis”, recorda.

MAMONAS

Outros nomes também marcaram a memória dos recifenses. A banda Mamonas Assassinas, no auge do sucesso, cumpriu agenda no Geraldão em dezembro de 1995, três meses antes do trágico acidente aéreo. Para o público infantil, a turnê nacional do fenômeno infantil Chiquititas, baseada na série para o SBT, causou furor pelo ginásio com o espetáculo intitulado As crianças mais amadas do Brasil.

O ginásio imponente impressionou a cantora Cristina Amaral, nascida em Sertânia, no Sertão pernambucano. A carreira dela está diretamente ligada ao equipamento. Um dos marcos foi sua participação no Festival Canta Nordeste, promovido pela Rede Globo no início dos anos 1990. “Viajei para o Recife e a final foi no Geraldão, quando tirei segundo lugar. Foi o começo de tudo para mim. Não conhecia o Recife, ouvia muito falar do Geraldão e dos artistas que se apresentaram lá. Não imaginava que também cantaria.”

O Canta Nordeste foi um festival que revelou grandes nomes da música pernambucana. No primeiro ano, Cristina Amaral ficou em segundo lugar com a interpretação de Cidade grande, de Petrúcio Amorim. Naquele ano, Israel Filho foi o campeão, com a música Sopa de aruá, de Gustavo Tiné. “Aquela estrutura parecia uma nave espacial, uma coisa de outro mundo. Foi muito importante para minha carreira subir naquele palco. Abriu portas para mim e para muita gente boa na época.”