Estreantes na literatura infantil Emicida lança Amora, e China, Carlos Viaja. Os músicos contam o processo de criação dos livros, elogiados pela crítica especializada

Publicação: 24/09/2018 03:00

O rapper Emicida acaba de lançar o livro Amoras. Recentemente, o cantor e compositor China também estreou na literatura, com Carlos viaja. Ambas as obras foram pensadas especialmente para o público infantil. O fato de dois nomes da música brasileira terem escrito seus respectivos livros de estreia voltados para crianças não passa, claro, de uma feliz coincidência. O paulistano Emicida e o pernambucano China vêm de universos, inclusive musicais, diferentes - e, inevitavelmente, acabaram transferindo as próprias vivências em suas escritas.

Amoras, o livro, foi inspirado em Amoras, o rap - e em toda sua singela atmosfera. Na história que ganhou as páginas do livro, o passeio de um pai com sua pequena por um pomar e a descoberta que as amoras “quanto mais escuras, mais doces” mostram a importância de se dar atenção a pequenas coisas do mundo. Mas, sendo o autor, antes de tudo, um rapper engajado, há outros subtextos nessas linhas. Fala também sobre respeito, sobretudo às diferentes religiões, culturas. “E diferentes pessoas”, completa Emicida.

“Minha mãe uma vez na adolescência me perguntou se todas as pessoas eram iguais e eu respondi prontamente que sim. Ela me corrigiu dizendo que não, que todas as pessoas eram diferentes, mas que precisavam era de direitos iguais. Quando convido os pequenos a conhecerem de forma colorida e divertida outros mundos diferentes do que eles estão habituados, acho que consigo criar uma raiz que, se bem alimentada, vai dar frutos maravilhosos como crescer respeitando o outro”, avalia.

Esse colorido ganha vida nas ilustrações de Aldo Fabrini, que acompanham os textos curtos que vêm em rimas simples e poéticas. Influência do rap? “Do rap, óbvio, mas também da literatura de cordel, que é algo pelo qual sou apaixonado”, ele responde. Emicida lembra de sua formação como leitor e como sua mãe foi importante nesse processo. “Eu odiava (livros) no começo, não tinha relação nenhuma. Amava televisão e fliperama, porque videogame em casa era coisa de rico. Minha mãe voltou a estudar e ela foi quem anistiou os livros e eles puderam circular livremente lá em casa”, conta. “Quando conheci as histórias em quadrinhos, o mundo mudou para mim, aquilo abriu minha mente para mil histórias diferentes e nunca mais parei. Foi uma questão de tempo entre ler apenas quadrinhos e depois sair lendo tudo que dessem na minha mão. Então, em resumo é o seguinte: assim como os alimentos, os livros precisam estar lá e ao alcance das crianças.”

É o que ele coloca em prática com sua filha mais velha, Estela, de 8 anos - ele é pai também de Teresa, que nasceu em junho. “Compro bastante livros para ela e para mim também e vou deixando sempre em lugares que ela alcança, livros bacanas sobre tudo, desde o continente africano até poemas de Minas Gerais”, diz. “A paternidade me transformou numa pessoa completamente diferente do que eu era. Foi através da mão e do olhar das minhas filhas que vi a importância de ser um ser humano melhor e me esforçar a cada dia para ser esse ser humano.”

Emicida concorda que ser compositor facilita o processo de se tornar escritor. Mesmo não sendo tão simples, acrescenta. “Para mim, tudo só funciona se eu fizer como se estivesse fazendo música”, conclui. Para China, “são coisas bem diferentes na hora de colocar as palavras no papel”. “Mas na parte de criar, imaginar, é um processo parecido.” Emicida já tinha ideia de escrever um livro. China, não.