Indicado para quebrar nosso longo jejum O grande circo místico, de Cacá Diegues, foi escolhido para ser o representante brasileiro por uma vaga na 91ª edição do Oscar 2019

Publicação: 12/09/2018 03:00

O grande circo místico é o representante do Brasil para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2019. Entre 22 produções, o longa de Cacá Diegues foi o indicado por uma comissão nomeada pelo Ministério da Cultura, em evento realizado ontem, na sede da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. O filme tem previsão para estrear nacionalmente em novembro, e será adaptado pela Rede Globo para uma minissérie, ainda sem data. A cerimônia da 91ª edição do Oscar será no dia 24 de fevereiro, em Los Angeles.

Partindo do espetáculo inspirado no poema de Jorge de Lima e com trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo, O grande circo místico conta a história de cinco gerações da família austríaca dona do Grande Circo Knieps, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século passado. Em tom de realismo fantástico, o filme mescla música, balé, ópera, circo, teatro e poesia. Nele, em meio a um universo tradicional, nasce o improvável romance entre um aristocrata e uma acrobata. A obra evoca o cineasta italiano Federico Fellini numa história do apogeu e decadência de um circo e também de uma família. “Não pensei especificamente em Fellini, mas ele está entranhado no meu imaginário de cinéfilo”, disse o diretor, em maio, quando o filme estava prestes a estrear em Cannes.

Há quase 50 anos, Cacá já contou outra história do Brasil, por meio de outra família e filtrada pela Rádio Nacional: Os herdeiros. “É curioso, outras pessoas já me falaram isso, mas não pensei especificamente em Os herdeiros ao fazer o Circo, mas é possível. Ainda é cedo para avaliar.”

Desde 1999
Tem sido um longo jejum brasileiro na festa da Academia de Hollywood. O último filme selecionado para concorrer foi Central do Brasil, de Walter Salles, em 1999. Em 2006, O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger, foi pré-indicado na lista de nove, mas não ficou entre os cinco finalistas. A última indicação não ocorreu na categoria de filme estrangeiro, mas na de animação - O menino e o mundo, de Alê Abreu, em 2016.

O Oscar de filme estrangeiro é dos que mais ousam. Mesmo assim, ocorrem coisas como o caso Cidade de Deus. Ignorado no Oscar de filme estrangeiro de 2003, o longa de Fernando Meirelles cravou quatro indicações no ano seguinte, incluindo direção, roteiro, montagem e fotografia. Outras vezes em que o Brasil esteve pertinho do Oscar: em 2012, Carlinhos Brown concorreu a melhor canção, por Rio; em 2015, O sal da terra, codirigido por Juliano Salgado, filho do fotógrafo Sebastião Salgado - personagem principal -, foi indicado para melhor documentário. Em 1986, William Hurt foi melhor ator por O beijo da Mulher-Aranha, coprodução dirigida (em São Paulo) por Hector Babenco. Em 2005, o uruguaio Jorge Drexler venceu o Oscar de canção por Al otro lado del rio, tema do filme Diários de motocicleta, de Walter Salles.

Entre os filmes que disputaram a indicação deste ano, destacam-se duas ótimas produções de gênero - O animal cordial, terror de Gabriela Amaral Almeida, e As boas maneiras, outro terror, da dupla Marco Dutra/Juliana Rojas. Ferrugem, de Aly Muritiba, foi aprovado no festival Sundance, nos EUA. E teve ainda o elogiado Benzinho, de Gustavo Pizzi.