TELINHAQ » O nome da vez na dramaturgia brasileira Fabrício "Roberval" Boliveira: "Protagonista" de Segundo sol, ator fala da polêmica sobre poucos atores negros em novela ambientada na Bahia

Ana Clara Brant
Do Estado de Minas

Publicação: 22/09/2018 03:00

Roberval (Fabrício Boliveira) expulsou de casa Rochelle (Giovanna Lancellotti), sua sobrinha, humilhou a própria mãe, Zefa (Claudia Di Moura), fez gato e sapato com a noiva Cacau (Fabíula Nascimento) em pleno altar e ainda comprou em segredo a mansão do pai, Severo (Odilon Wagner), transformado em seu motorista particular. Já se falou sobre a morte do personagem e a origem real da fortuna do vilão da novela Segundo sol. Enquanto isso, seu intérprete, Fabrício Boliveira, se diverte com a onda de especulações.

“Estou adorando as fake news sobre o Roberval. De algum jeito, as pessoas e os jornalistas já estão dizendo o que acham do personagem. Trato isso como uma resposta ao meu trabalho, estou tentando observar esse diálogo”, afirma o ator, que confirma outra virada no folhetim. “Vamos conhecer mais uma face do Roberval. Talvez o real motivo da sua volta, 18 anos depois”, pontua.

Muitos acreditavam que o complexo e ambíguo filho de Zefa enriqueceu ilicitamente. Porém, isso não é verdade, como se verá em breve. Quando foi embora para Angola, no começo da trama, Roberval descobriu um veio de diamantes e arrumou um sócio, pois precisava de um angolano à frente do empreendimento. O parceiro morreu e o filho dele aparece dizendo que, a partir de agora, os negócios serão ilegais, deixando Roberval irado. “O que mais me atraiu nessa história foi a possibilidade de falar do trabalho servil no Brasil, de questões ainda pouco vasculhadas. A complexidade do Roberval me atraiu bastante também. É um homem tentando rever a própria história, olhando novamente para seus traumas e, de algum jeito, apontando alguma possibilidade para o futuro. Porém, ele age com duvidosos códigos éticos”, ressalta.

O personagem é um dos grandes trunfos do folhetim de João Emanuel Carneiro. Vira e mexe, está entre os assuntos mais comentados do Twitter. O ator baiano, de 36 anos, comemora a repercussão, revelando que as abordagens do público têm sido quase sempre “carinhosas, emotivas, mas de opiniões diversas”. “Sinto que o Roberval mexe num lugar novo do público. As pessoas não sabem se torcem pelo mocinho ou se o odeiam como vilão. Isso abre espaço para outras reflexões e sentimentos - para além de gostar ou não. A observação e a análise sobre o comportamento dele, quase diárias, têm me deixado satisfeito. Me interessa muito essa instabilidade nas certezas das opiniões que o público tem deixado pela internet e que venho escutando bastante por aí”, diz.

Roberval se transformou em “quase protagonista” de Segundo sol. Não só pelas reviravoltas do personagem, mas por méritos do próprio Fabrício. Modesto, ele ressalta a união da equipe. Nascido em Salvador, Fabrício comenta a polêmica que envolveu a novela, logo no início: poucos atores negros integram o elenco de uma história ambientada na Bahia, onde a maioria da população é afrodescendente. “Essa questão atravessa o tempo. Já está chato só nós, negros, termos de pedir por igualdade de direitos em todos os setores e áreas profissionais. Essa deveria ser uma preocupação de toda a sociedade. A desarmonia social atinge a todos. Então, precisamos ser mais do que apenas não racistas. Devemos agir pela igualdade para todos. É o básico para uma vida mais justa”, defende.

É o segundo trabalho de Fabrício Boliveira com João Emanuel Carneiro. O primeiro foi o alcoólatra Didu, de A favorita (2008). “Adoro a escrita do João. Desde A favorita me delicio com as surpresas dos personagens. Didu Rosa era submisso às ordens do pai e agora o Roberval bate de frente com a família. São personagens com questões profundas e arco dramático bastante variável, o que leva o público a um interesse maior.”

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Em vários projetos de destaque no cinema

Roberval é o cara da vez, mas Fabrício poderia ser chamado também de Richard (seu papel no filme Tungstênio), Tião (personagem do longa Além do homem) ou de Wilson Simonal, na cinebiografia Simonal (foto), que estreará em 2019. O baiano participa de vários projetos de destaque no cinema. “É um momento especial de sincronicidade de trabalhos feitos há dois, três anos. Fico bastante feliz de esses retornos profissionais ocorrerem agora, neste momento mais maduro da vida. Isso me soa como um tempo de colheita do plantio feito desde o início do meu trabalho como ator. Mas não me sinto no ápice de minha trajetória. Ainda quero avançar mais e me redescobrir nessas caminhadas”, afirma.