A eterna busca pelas origens Filme Djon África enfoca, pelo olhar de um jovem, a diáspora do povo de Cabo Verde em busca de vida melhor na Europa

BRENO PESSOA
breno.pessoa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 11/10/2018 09:00

Formado por um arquipélago, Cabo Verde reserva uma curiosidade sobre sua população: é um país que tem mais gente fora do que dentro. Com cerca de um milhão de cabo-verdianos morando em outros pontos do globo, enquanto apenas cerca de 540 mil residem no território que forma a ex-colônia portuguesa. Essa diáspora é um dos temas centrais de Djon África, longa-metragem de Filipa Reis e João Miller Guerra, em cartaz a partir de hoje nos cinemas da Fundação Joaquim Nabuco.

O filme terá uma sessão especial no sábado, às 20h, na sala da Fundaj no Derby, com exibição seguida de debate com a presença dos diretores e do protagonista Miguel Moreira e da produtora Rachel Ellis. Os ingressos custam R$ 12 e R$ 6 (meia).

Os portugueses Filipa Reis e João Miller, ao lado de outro cineasta, Ruben Furtado, já haviam se debruçado sobre esta questão no documentário Li Ké Terra (2012), que aborda a presença cabo-verdianos em Portugal. Um dos personagens centrais desta produção era o próprio Miguel Moreira, que aparece como protagonista em Djon África.

A trama acompanha um personagem chamado Miguel, cabo-verdiano órfão de mãe e residente em Portugal, em uma jornada rumo ao país de origem, em busca do pai até então desconhecido, e das próprias raízes. O fato de o protagonista ter o mesmo nome do ator e origens parecidas sinaliza a intenção dos diretores imprimirem certo tom documental, algo reforçado também pelas atuações espontâneas vistas em tela. Como contraste, algumas cenas trazem pitadas de realismo mágico a partir de situações algo improváveis.

Enquanto o mote paterno parece, a princípio, o grande motivador de retorno à pátria, aos poucos a viagem se inclina mais para um momento de redescoberta da própria origem e sensação de pertencimento. Sem pistas concretas sobre o paradeiro do pai, apenas algumas histórias contadas pela avó, Miguel conhece seu país natal e entende melhor a própria identidade.

“A condição de estrangeiro é de certa forma universal. E quer Portugal, quer o Brasil ou Cabo Verde, são países de emigrantes. É possível, pelo mundo, todo encontrar muitos emigrantes tentando viver melhor”, diz João Miller. Portugal, pela proximidade geográfica, é hoje um dos principais destinos daqueles que deixam Cabo Verde para trás em busca de novas oportunidades. Mais de 36 mil imigrantes residem de maneira legal no território português, que abriga também muitos em situação irregular.

“As segundas e terceiras gerações de emigrantes vivem situações semelhantes (à do personagem central). A busca pela origem é universal e até transcende a condição do emigrante. E este é um dos temas tratados no filme”, reforça o cineasta.

Com um protagonista bastante carismático e uma direção que em nenhum momento tenta retratar com exotismo a paisagem de Cabo Verde, Djon África é um filme bastante agradável. Ainda que a diáspora seja um tema delicado e sintoma de um cenário inóspito no país africano, o longa deixa uma mensagem positiva e sentimento alegre.