A volta do filme amaldiçoado The other side of the wind, película que Orson Welles não conseguiu terminar por problemas judiciais e de produção, será exibido pela Netflix

Publicação: 22/10/2018 03:00

Problemas de produção e depois judiciais impediram Orson Welles de concluir antes de sua morte The other side of the wind (“O outro lado do vento”), filme amaldiçoado do cineasta americano que foi ressuscitado e será exibido pela Netflix mais de 40 anos depois. Filmado entre 1970 e 1976, este trabalho abstrato, desdobrando-se em alta velocidade entre cor e preto e branco, mergulha o espectador na festa de aniversário de um diretor de Hollywood deposto, de volta à casa com um novo filme depois de anos de exílio.

Visualmente, Orson Welles queria se afastar do classicismo de seus trabalhos anteriores para assinar um longa-metragem “sem qualquer intriga”, nem preceitos de realização impostos pela indústria americana. Com um objetivo: tornar The other side of the wind seu “grande filme”. Sátira de Hollywood, a produção com toques autobiográficos, trilha sonora do compositor francês Michel Legrand e no qual Welles ironiza o cinema emergente da época e seus ícones oferece algo muito denso e um erotismo inédito na psique do diretor de Cidadão Kane.

Foi preciso uma década para completar o filme e reviver sua mitologia, após negociações dos direitos, finalmente adquiridos em 2014. “A viagem foi longa para reviver o filme. Nenhum estúdio queria se jogar na aventura até aparecer a Netflix - que pagou cinco milhões de euros. Nós tivemos carta branca”, detalhou um dos dois produtores Filip Jan Rymsza durante o festival Lumière de Lyon, onde foi projetado.

Para completar o longa-metragem, a produção chamou o montador Bob Murawski, que contou com os quase 40 minutos de cenas de Welles antes de sua morte em 1985, mas também com notas muito precisas de intenção e várias versões do roteiro imaginado pelo mestre com sua última companheira, a atriz Oja Kodar.

Em They’ll love me when i'm dead, documentário de Morgan Neville sobre a gênese do projeto e os bastidores das filmagens, uma sequência mostra o cineasta fazendo uma série de confissões a um grupo de jornalistas em uma tarde de 1966. Vivendo na Europa há vários anos depois que se sentiu “traído” pela indústria americana, Welles expôs publicamente pela primeira vez o desejo de fazer um filme sobre Hollywood “na forma de um documentário e no qual aconteceriam acidentes divinos porque os atores improvisariam.”