Uma Gal preparada para as pistas Novo álbum da baiana, o 40º de sua carreira, tem direção musical do ex-Nação Zumbi Pupillo e sonoridade disco music

Irlam Rocha Lima
viverdp@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 16/10/2018 03:00

“Fiz um disco bem diversificado, com uma sonoridade disco music, que sempre quis gravar para, na época, tocar em discoteca. Um disco que qualquer pessoa pudesse gostar, até mesmo aquelas que não ouvem minhas coisas. É um disco que tem frescor. Está ali uma Gal Costa cantando de maneira nova”. Projeta-se a diva do tropicalismo, uma das quase unanimidades da MPB, se posicionando em busca do reconhecimento nesta nova fase da carreira.

Do recém-lançado A pele do futuro o quadragésimo disco de Gal, o que se depreende é uma cantora na plenitude da maturidade que, corajosamente, se reinventa como intérprete. Com naturalidade, a artista mantém o refinamento artístico, que sempre foi sua marca registrada na vitoriosa trajetória de 53 anos no universo da música popular brasileira.

Na concepção do novo álbum, com direção musical de Pupillo (ex-percussionista da banda Nação Zumbi), a cantora contou com a dedicação de Marcus Preto— com quem trabalhou, anteriormente, no show Espelho d’água e no CD Estratosférica — responsável pela garimpagem das 12 canções que formam o repertório e a direção artística. “O Marcus fez a colheita das músicas junto aos compositores, pedindo a cada um deles. Juntos, ouvimos e fizemos a seleção, pois foram muitas as que chegaram a mim”, revela Gal.

Chama a atenção o eclético grupo de autores que contribuíram para a criação do A pele do futuro, do qual fazem parte nomes consagrados como Gilberto Gil (Viagem passageira), Erasmo Carlos, em parceria com Emicida (Abre-alas do verão), Jorge Mautner, com César Lacerda (Minha mãe), Djavan (Dentro da lei), Nando Reis (Mãe de todas as vozes), Hyldon (Vida que segue), Guilherme Arantes (Puro sangue-Libelo do perdão) Adriana Calcanhotto (Livre do amor) e Paulinho Moska (Cabelos e unhas).

Sofrência
Mas a diva gravou também novos compositores. Sublime, a canção que abre a lista, por exemplo, é de Dani Black (já gravado por Ney Matogrosso). A ele se juntam Tim Bernardes (que fez Realmente lindo), Silva e Omar Salomão (filho de Wally Salomão), autores de Palavras no corpo. Surpreendente para alguns é a presença nesse projeto de Marília Mendonça, a “rainha da sofrência”. Ela não só é a coautora de Cuidando de longe, como divide a interpretação com Gal.

“Embora o Marcus (Preto) tenha feito o contato com a maioria dos compositores, eu mesma é que solicitei músicas para o Gil e o Guilherme Arantes. Como em 2017 estava em turnê do show Trinca de ases com o Gil, aproveitei e pedi uma canção para ele, que me presenteou com a lindíssima Viagem passageira”, conta Gal. “Quando liguei para o Guilherme, sugeri a ele algo na praia de Earth, Wind & Fire; e veio Puro sangue (Libelo do perdão), na medida exata, com o foco na disco music. Chegamos a pensar numa letra do Caetano para a melodia, mas ele achou que não era o caso, e disse: ‘Essa música está pronta e é linda’. Na gravação, contamos com os teclados e sintetizadores arranjados e tocados pelo próprio Guilherme”,acrescenta.

Nando Reis, companheiro de Gal e Gil no Trinca de ases, havia feito Mãe de todas as vozes para o show, que acabou não entrando no roteiro — pois já havia outras duas dele. A cantora comemorou o fato, porque tinha uma música inédita, um blues’n rock, inspirado na fase Fa-Tal, para começar a construir o repertório do novo disco.

Bethânia de volta
Gal tem uma explicação para Caetano Veloso, o compositor de que ela mais gravou, ter ficado de fora do A pele do futuro. “Caetano estava ocupado com show em parceria com os filhos, não quis atrapalhar. Nem cheguei a pedir música para ele. Mas, mesmo ausente do disco, Caetano está sempre comigo em todas as coisas que faço. Nós temos uma cumplicidade musical”. Em compensação, depois de muito tempo sem cantar juntas, Maria Bethânia voltou a gravar com Gal Costa. O reencontro foi promovido por Minha mãe, última canção a entrar no disco. A letra de Jorge Mautner, amigo de Dona Mariah (mãe de Gal), musicada pelo mineiro César Lacerda, remete à religiosidade de Dona Canô (mãe de Bethânia). (Do Correio Braziliense)

Serviço

A Pele do Futuro
CD de Gal Costa, com 12 faixas, direção artística de Marcus Preto e direção musical de Pupillo. Lançamento da gravadora Biscoito Fino. Preço sugerido R$ 30,90.